26.6.10

Giorgio no Kruger Park


South Africa, June 2010
Kruger National Park, “Fruit & Chocolate Lodge”

Giorgio di Bufa acabava de ser picado por uma mosca “tsé-tsé”. Atónito, mirava a ferroadela. O insecto, por sua vez, caía fulminado!
Qual dengue, qual quê!
A célebre mosca tinha provado do veneno letal de “Palermo”.
Como sempre, Giorgio, de início assustado com aquele imprevisto ataque ao anoitecer, entrou em delírio momentâneo, balbuciando algo imperceptível para uma silhueta imaginária, fugaz, no meio do capim, semelhante ao seu comparsa já ido, Perdigoto, “O Cartola”, perdendo-se num rol de promessas incumpridas. Passados aqueles momentos de suspense, interiorizando as tradições da África negra profunda, qual feiticeiro zulu, agitou os amuletos em forma de chifre, que lhe oferecera mestre Albes do Celse, numa das suas muitas consultas pseudoesotéricas em Vila do Conde, arrancou as asas e as patas à mosca “tsé-tsé” como que afastando o dengue e demais maleitas, soltou um bafo e… uma bufa, gritando:
- “Bibó Fruta, Corrupção & Putêdo… carago”! Abaixo o “dengue”! Abaixo a capital! Abaixo o Benfica! Abaixo as águias!
Logo a seguir, como prémio destas práticas ancestrais de magia dos povos indígenas do Kruger, entrou em transe e teve uma visão sensual, paradisíaca. A portentosa e escultural ameríndia que já o acompanhava há algum tempo em mais uma escandaleira passional, vagueava completamente nua pelo varandim superior da suite presidencial do lodge, à luz da lua e sob o olhar circunspecto e guloso de um bando de babuínos e de macacos narigudos, tal qual uma bela e selvagem gazela, soprando suavemente uma vuvuzela contrafeita, às riscas azuis e brancas, que Giorgio tinha comprado ainda em Portugal, na free shop do aeroporto de Pedras Rubras como instrumento de recurso.
Estava extasiado!
- Eh,eh,eh! E logo na minha vuvuzela! – exclamava ele. E continuando, dizia:
- Só no “Fruit & Chocolate” se podem dar estes milagres da natureza! Vai garota, não pares de soprar! A selva é toda tua, minha rica filha!
Ela parou um pouco, suspirou, sorriu, e tal qual um bijú quente e doce das terras de Vera Cruz, avisou:
- Ôi, meu rico e velho cáréca, depoisss tens di soprá também na minha, tá bom?
- Neste “calor da noite”, não sei, não! Depois de ter soprado em valentes pares de perigosas vuvuzelas, há uns anos atrás, tenho agora uma “búfala” conselheira cultural e uma “pacaça de alterne” atrás de mim! – respondia ele um pouco apreensivo em linguagem safariana.

Após este episódio romântico à moda de “Palermo” na suite presidencial deste luxuoso lodge da selva africana, Giorgio lá voltou para o lounge do hotel, para os seus afazeres profissionais.
Estava na África do Sul como observador e conselheiro, não como especialista em casos de matrimónio, mas sim em questões de preservação da vida selvagem e também como empresário, negociante de vuvuzelas genuínas. As razões eram fortes. No primeiro caso, os leões padeciam de moléstia galopante, desconhecida, e Giorgio até tinha trazido consigo o “Macaco de Palermo” para o ajudar nas consultas a identificar o problema. Nada feito, pois o símio, logo que pôs as patas em solo africano, cavou imediatamente para a selva, em busca do cemitério dos elefantes com o objectivo de contrabandear marfim para a Europa. É o que se pode dizer, um macaco ávido de fruta – cá, a bilhética e o pó, na África, o ouro branco!
Sendo assim, Giorgio não perdeu tempo, e acabou por encontrar-se ainda, em plena selva, com um pretensioso leão de juba branca e um outro, manhoso, de palito de ébano na boca, cujo síndroma, obsessivo e complexado, em função da sintomatologia que apresentavam – subir aos ninhos das Águias para tentar roubá-los – os transformavam numa espécie de lagartos-dragões meio apalhaçados e submissos. Aí, constatou que já nada havia a fazer. A maioria deles era casos perdidos.
Já escaldado nos tempos mais recentes, por uma contínua série de barracas contratadas para a selva da Pocilga, em Palermo, Giorgio regressou conformado ao lodge, onde acabou por encontrar o Tigre da Malásia com o seu velho pai, ostentando ambos, umas autênticas trombas de elefante, pois aquele violento felino quis dar o salto, mas Giorgio cortou-lhe as hipóteses.
Azar dos azares! Veio para tratar dos leões e apareceu-lhe todo o tipo de bicharada à sua frente! A confusão já era tanta que se não fosse a vuvuzela da “netinha”, Giorgio ainda se habilitava a ser lançado aos crocodilos!
Por outro lado, na terra do ouro, já não havia apitos dourados, mas sim vuvuzelas originais. Era uma excelente oportunidade para adquirir um bom lote e oferecer algumas aos seus companheiros de muitas “lutas”. Não perdeu tempo e como publicidade e promoção às mesmas, enviou uma para Magaliesburg por express mail, para Berto Mandril, uma outra, em correio azul, para a sede dos árbitros do mundial, ao cuidado de Ovigário e por fim, para a metrópole lusa, um lote destinado a um conselho de justiça, com o objectivo de servirem de rolhões para as suas mais recentes e incontidas fétidas dejecções - uma contínua esterqueira em favor do Fruta Corrupção & Putêdo, que os seus suspeitos membros têm feito impunemente e à descarada. A de Mandril tem como objectivo prático, substituir o funil e fazer correr mais depressa o Johnnie Walker, rótulo preto, pelas suas goelas abaixo. Ovigário, com a que lhe foi endereçada, poderá apitar, com som estridente, a invalidação de golos verdadeiros quando a bola ultrapasse a linha de baliza, ou fazer vista grossa - assustando os jogadores do Benfica para caírem mais depressa, mesmo com os seus adversários fazendo faltas grosseiras na área - evitando a marcação de penaltys e exibindo-lhes o amarelo por simulação.
Pois é.
O Kruger National Park está cheio de vida selvagem em estado puro. Não venham agora, nem nunca, a corja habitual e o seu protagonista número um, da selva urbana de “Palermo” - acompanhado de uma corsa amazónica transformada em “netinha”, já que mais uma “afilhada” papal seria dar muito nas vistas - conspurcarem-no, como conspurcaram o futebol de todo o nosso parque desportivo, anos e anos a fio!
Um bom safari para todos.

GRÃO VASCO

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