8.12.10

Lá quê?


Lacazette, pá!

Foi o Lacazette!

La-ca-ze-tte!

Provàvelmente será um nome que a partir da noite de ontem perdurará na memória dos Benfiquistas durante muitos e muitos anos.

Alexandre Lacazette, de sua graça e da côr do ébano, dezanove aninhos feitos, jogador suplente do Olympique Lyonnais que eu nem sei a que lugar joga, foi ontem abençoado e contemplado com um dom divino – o dom da ubiquidade - pelo menos durante o 88º minuto dos jogos que decorreram nos estádios da Luz, em Lisboa e Gerland, em Lyon. A dois minutos do fim desses encontros, brindou o seu clube com quatrocentos mil euros empatando a partida, ao marcar o segundo golo ao Hapoel de Tel Aviv, chegou a Jaffa, ao Bloomfield Stadium, como mensageiro da desilusão e ofereceu, de bandeja, o apuramento ao Benfica para a fase de eliminatórias da Europe League.

Será que Jesus saberia antecipadamente que Lacazette, o anjo da salvação, seria o herói dessa noite triste, fria e chuvosa, ficando para sempre na História do Benfica?

Parecia que sim, pois quem olhou com atenção para a equipa inicial do Benfica que iria enfrentar o Schalke 04, soube logo que a noite iria ser outra via sacra, tal qual a de Tel Aviv, há duas semanas atrás.

Jesus assim o quis.

Com um estranho semblante de sofrimento, muito diferente do seu fácies da época passada, optou incompreensìvelmente por um meio-campo lastimável, sem jogadores criativos e rápidos. Carlos Martins – louve-se o seu esforço e empenho - leu mal o jogo, esteve desastrado, acertando de quando em vez. Rúben Amorim e César Peixoto, com muito pouca estaleca para estas lides, são jogadores de segunda linha, longe das exigências físicas que estes jogos da Champions determinam.

Gaitán e Salvio podem ser pouco experientes nestas andanças, mas dão versatilidade, velocidade e virtuosismo ao jogo de ataque do Benfica, servindo na maioria das vezes para municiar os goleadores que ontem, para ajudar à missa, não acertaram uma. E Saviola de mal a pior, com Jesus a insistir.

Na segunda-feira, ao ver o treino da equipa no Seixal, pela Benfica TV, fiquei desiludido. Uma porcaria, com uma peladinha esquisita, falha de objectividade, o que não augurava nada de bom para o jogo de ontem, e assim foi.

Crente na sua divina premonição, Jesus ainda viu a equipa dar mais um de vantagem ao Schalke 04. Contas feitas cá e ouvidos lá, em Lyon, com os verdadeiros crentes Gloriosos a sofrerem cada vez mais, com o desgraçado do Luisão a servir de bombeiro, aguadeiro, socorrista e não sei mais o quê, tentando aliviar como podia o sofrimento da pesada cruz que Jesus quis carregar para um calvário desnecessário. Coentrão ia dando uma ajuda, mas também com muitas dificuldades.

Para completar o cenário cada vez mais próximo de uma brutal hecatombe, setenta minutos de jogo em Lyon e o Hapoel na frente. Escuridão total na Luz, com o Benfica às aranhas, a ficar automàticamente de fora da nau europeia, agarrando-se em desespero de causa ao seu bordo e já com a corda ao pescoço.

Dramático!

Desolação e inquietação totais, com amarelos e discussões inúteis com o árbitro.

Já não bastava a infeliz ideia e logo neste jogo, de alguém equipar o Benfica daquela estúpida maneira, e ter deixado o verdadeiro Manto Sagrado – aquela Gloriosa camisola Vermelha – a ser comido pela traça num qualquer vestiário do Estádio da Luz, a equipa a jogar pèssimamente, meia dúzia de gatos-pingados como espectadores e ainda tinha que vir um Hapoel terceiro-mundista da bola, passar-nos a perna!

Um Jesus nos acuda!

Mas Jesus não estava lá. Luisão, inconformado, ainda reduziu o score. Cinco minutos intermináveis para o final do jogo, que todos desejavam mais intermináveis ainda, pois eram precisas mais duas dentro da baliza dum grande Nóia (Neuer) – também há gandas “nóias” na Alemanha, e em Gelsenkirshen, o que eu desconhecia - para que o Benfica se mantivesse na Europa.

Aimar falha, Javi García falha, Saviola falha, Cardozo falha. Salvio, Coentrão, Gaitán, David Luiz e Luisão carregam. Rúben Amorim, tolinho, manda um charuto para a bancada do topo sul! Roberto, do outro lado, assiste, desesperado.

Paradoxalmente, o Benfica a jogar mal e todos nós a pedirmos que o jogo se prolongasse ainda mais, muito mais!

De Lyon, do Stade Gerland, nada!

A angústia de todos aumenta dramàticamente, com o Benfica a suplicar a Jesus pelo milagre da salvação. E Jesus nada. De olhar distante, fixo, quase conformado, tentando vislumbrar no horizonte uma centelha de felicidade.

E nada!

Mas eis que, a dois minutos dos finais dos encontros de Lyon e de Lisboa, Lacazette surge como um anjo redentor, tal como há dois mil e tal anos outros anjos apareceram ao Verdadeiro, em Israel na Palestina. Só que desta vez, este veio a Portugal e iluminou a Luz de luz!

Lacazette foi providencial e lá descansou um Jesus descrente, errático e um Benfica e Benfiquistas aflitos, salvando-nos da pior humilhação destes últimos anos e que já se anunciava pela TV através dos irónicos e intragáveis Tadeia & Alex Albochechas, pelos anti-Benfica, escumalha submissa, corja corrupta e brácaros da falperra.

Mas só por ver o sofrimento desta gajada, posterior ao nosso, e que enviou mais alguns deles para as urgências dos hospitais com ataques de ódio, raiva e desilusão, valeu a pena que os factos assim tivessem acontecido. Garanto-vos, Caros Companheiros, que no fim do jogo, senti uma alegria tal, que foi como se tivesse ganho por 5-0 ao Barcelona!

Finais dos jogos. Um grande susto, uma derrota vergonhosa e um incrível happy end, que nos permite ganhar o devido fôlego para o resto da época e para Europa, que novamente nos espera em Fevereiro do próximo ano!

Quem diria?

Uma coisa tão esquisita e contraditória que até custa a crer!

Agora, já duvidava que Jesus teria as tais razões premonitórias de que o anjo salvador apareceria. Mas o destino tem destas coisas e ele lá apareceu. Foi Lacazette, jogador que nem faz parte dos seus vídeos, catálogos e dossiers de jogadores exaustivamente analisados e estudados, como ele tanto gosta de salientar.

Mas este homem, além de jogador foi sobretudo um anjo. Um anjo salvador!

Para que conste e sirva de exemplo ao profeta de pacotilha da playstation!

Lacazette!

Percebeste bem, ó Jesus? Ou queres que te faça um desenho?

Olha que, milagres como este, só há um de mil em mil anos!

Já estou mais aliviado!

Nem quero ver, ouvir e ler nada sobre bola e sobre o Glorioso nestes próximos dias!

Até domingo!

GRÃO VASCO

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