9.5.12

Fernando Seara



Caro Fernando Seara,

Já lá vão muitos anos, quando na nossa mocidade, ao cruzarmo-nos nos corredores do Liceu de Viseu, tu, com esse sorriso ingénuo de sempre, de bigodinho juvenil e ainda com o penteado em dia, me perguntavas:
- Então, e o nosso Benfica?
E eu, com o habitual fervor e inabalável fé clubística, ainda sem bigode e com o cabelo cortado à escovinha, respondia:
- É para ganhar, para ganhar sempre, seja contra quem for!

Se a minha memória não me atraiçoa, seguiste, ainda pequenote para o Colégio Militar, cumprindo uma tradição familiar por via do teu avô materno, o velho coronel Reboredo. Depois regressaste, já no secundário e mais tarde na parte final, cada um seguiu o seu caminho. Uns, letras, no teu caso Direito e outros, ciências. Mas sempre Benfiquistas. Indefectíveis.

Tempos que já lá vão e que não voltam mais.
Tempo de um apogeu do Glorioso, que muitos dos que me lêem não sabem o que foi, em que se traduziu, o que significou para os portugueses e para o próprio país.
Foi uma era esplendorosa que obrigou a Europa a reconhecer Portugal como um país e não como uma pobre província da Ibéria onde vegetava um bando de maltrapilhos, analfabetos, mal vestidos e cheios de fome, e cuja representatividade internacional era assegurada pelo Benfica, por Eusébio e pela grande Amália Rodrigues.
Fado e futebol nas suas expressões portuguesas mais autênticas e que conseguiam mitigar em parte, a opressão e as carências de todo um povo.

Depois, com a libertinagem e o oportunismo que um regime democrático arrasta, os revisionistas da história de um coio sediado a norte, liderados pelo maior crápula de que há memória, tentaram reescrevê-la, lançando a maior blasfémia e o maior insulto ao Glorioso, apelidando-o de clube do antigo regime.
Uma mentira torpe e que demonstra o miserabilismo do mais reles grémio de aldrabões do desporto português – o futebol clube do porto.
Contra o banditismo selvagem, o sectarismo ordinário, o insulto provinciano, a mentira e a chicana, esse Benfiquismo de sempre, um sentimento que não se consegue explicar, sobreviveu a tudo.

E hoje, felizmente para as gerações mais jovens, muitos Benfiquistas que viveram esses e outros tempos gloriosos e ainda cá estão, são o testemunho vivo e o garante que essa sociedade de sopranos à la Palermo, não passará, não obstante alguns dos que deveriam ser a first line da defesa do Benfica começarem a assobiar para o lado, pois bem sabemos que os resquícios do regime ditatorial continuam bem alocados a essa agremiação portista.
Mas eles, não passarão!

Caro Seara, vou continuar a tratar-te por tu, como sempre te tratei, não obstante revelares hoje uma grande erudição, um conhecimento vastíssimo, reconhecida competência nas áreas profissional e política, uma cultura e uma elevação bem dignas de um filho de Viseu, Benfiquista e meu contemporâneo de liceu e adolescência.

Vem esta introdução a propósito de que é quase impossível e impensável chegar ao teu contacto, tal a tua importância, o teu protagonismo, a tua qualificação política, intelectual e profissional, o teu mediatismo, tal a distância entre uma figura pública como tu e um simples anónimo Benfiquista sofredor como eu sou.
Mas não tenhas dúvidas que tal como eu, há centenas de anónimos bem atentos ao desenrolar dos acontecimentos.

Todos sabemos quão importante é o mediatismo para algumas personalidades e tu, no programa em que participas semanalmente – Prolongamento na TVI24 - sabe-lo melhor do que ninguém, para mais a mais com a professora que quotidianamente lá tens em casa.

No entanto, é importante que tenhas sempre presente que o programa não é nenhum “fórum intelectual” e que há milhões a verem-te, e atentos à tua prestação como Benfiquista. És um dos actores principais, representas, quer queiras quer não, o SLBenfica, e a tua participação é importantíssima e fundamental para a luta que actualmente o Clube trava, e que de há alguns anos a esta parte se tornou verdadeiramente titânica com os nossos 3/5 a lutar contra os outros 2/5 que pelas tácticas subterrâneas empregues, mais parecem e muitas vezes são 4/5.

Poderás perguntar porque que é que te faço esta alusão?

Pois bem, porque é patente na maioria das edições do Prolongamento seres derrotado sempre por 2 a 1, mesmo depois de ganhares ao sábado, ao domingo ou à 2ª feira. Passivamente, muitas das tuas intervenções, reacções e atitudes no programa, mostram grande resignação e alguma ingenuidade, dando a impressão que estás ali mais para cobrar uma avença do que para defender o Glorioso.

Na tertúlia de amigos Benfiquistas à qual eu pertenço, é claro que a tua prestação tem sido àsperamente criticada, pela passividade e moleza da tua argumentação e da tua postura a roçar a sonsice e a comicidade ridícula, com um revolver de mãos, uns risinhos meios histéricos e um encolher de ombros impróprios para um programa com algum mediatismo.

Acredita que às vezes essa tua postura deprime, e os Benfiquistas ficam sèriamente embaraçados e envergonhados ao ponto de desabafarem coisas do género:
- Então o homem fica-se?
- Será que não temos lá alguém que lhes “ferre forte e feio”, quando a dupla, representante da “santa aliança” começa a “deitar as unhas de fora”?
- Quando é que o homem pára de divagar e começa a “dar-lhes a sério”?
- Será que o professor pensa que está numa aula, ou num “conselho de sábios”, a falar de erudito para eruditos, e se esquece que a realidade é a do telespectador médio, que o vê como adepto do SLBenfica, que é o que ele próprio telespectador é, seja catedrático, pintor, artista, escriturário, pedreiro, porteiro, desempregado ou reformado?
- Será que tu e nós temos de passar pela mesma vergonha e humilhação semanas a fio?

Garanto-te Caro Fernando Seara, que é esta, a imagem que projectas na “pantalha”. Ignorá-la é ignorar a realidade e entrares no mundo do faz de conta. A audiência Benfiquista fica incomodada ao ver a sessão de gozo que levas de um “charlatão” que por norma traz a lição muito bem estudada, sempre com uma argumentação falaciosa, “besuntando a sua sebosa e mastigada verborreia com uma camada de vaselina”, indo sempre, mas sempre, sub-reptìciamente, “ferrar o aguilhão” em ti e no SLBenfica, para gáudio da turba anti-benfiquista,!

Esta é a opinião partilhada por centenas de benfiquistas que conheço e que como eu ficam tristes e incomodados com esta situação.

Peço-te que interpretes estas críticas como um contributo para a melhoria das tuas “performances televisivas” sem nenhuma intenção destrutiva ou ofensiva ao teu carácter e à tua personalidade!
Não digo, de maneira nenhuma para abdicares da tua elevada urbanidade, da tua formação, da tua educação, mas que terás de ser muito mais incisivo, acutilante e “mediático” no sentido de elucidares devidamente a maioria das pessoas que te está a ver e a ouvir, abdicando por largos momentos da tua “erudição” e do teu “discurso professoral e teórico”, que nas circunstâncias descritas acima se torna incompreendido e insosso, e alvo de chacota dos teus “amigos” de programa.
A tua postura, nestes casos é contraproducente, e só dá trunfos aos adversários.
Como te digo, o resultado é habitualmente de 2 a 1, contra ti e contra nós, Benfiquistas, sem conseguires a reviravolta à Benfica que todos nós estamos sempre à espera!

O que me levou a dirigir-te esta missiva foi aquilo que ocorreu no último programa, pois constituiu para ti, um verdadeiro desastre mediático.
Cada um faz a cama que quer e deita-se com quem quer.
Cada um come com quem quer à mesa.
O problema é só dele e de mais ninguém e as acções como diz aquele lugar comum, “ficam com quem as pratica”.

Não sei se alguma vez ouviste as escutas telefónicas relacionadas com o Apito Dourado. Pela tua conversa tão assertiva e tão “pura” em relação à justiça deste país, defendendo a magistratura como um “dogma absoluto” concluí que nunca ouviste essa vergonha, essa nódoa negra de um país onde a impunidade grassa. Mas uma coisa posso contrapor também a essa defesa que fazes da intocabilidade ou infalibilidade da magistratura – ninguém está acima da lei!
Ninguém!

E se estivesses um pouco mais atento e te deixasses das habituais divagações patetas e patéticas com que brindas a plateia que assiste ao programa, de certeza que não irias por esses caminhos nem darias a triste imagem que deste nesta última edição.
Cego é aquele que não quer ver e a percepção que ficou é que enviaste alguns recados a alguém que te fez reparos legítimos.

E se por acaso, o meu melhor amigo me convidasse para jantar, fosse no Gambrinus ou na Tasca do Zé dos Pirolitos, com um dos maiores impostores e canalhas deste país, com uma vida pessoal e conjugal sem escrúpulos, sendo também o mais execrável inimigo da entidade pela qual luto e à qual julgo que ainda pertences e da qual és adepto e sócio, garanto-te que por mais que gostasse de uma portista assumida, também ela supostamente convidada, declinaria sempre esse convite.

Lá diz o ditado:
- “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

Mas cada um é como cada qual, e tal como nos filmes de acção, há muita gente que gosta de fazer piruetas no fio da navalha e de dormir com o inimigo.
No entanto, “dormir” com dois ou com três é absolutamente surreal. Mas nesta matéria vamos ficar por aqui, pois a intimidade de cada um é absolutamente intocável e respeitável.

Caro Fernando Seara, na 2ª feira acabaste por descer pelas escadas dos fundos do Templo Sagrado. Não creio que consigas, nem tenhas vontade de subi-las novamente.
O teu "prolongamento" é um caminho penoso que só adia a tua derrota perante a esmagadora maioria dos Benfiquistas.

Acaba com aquele triste espectáculo à 2ª feira de uma vez por todas!


Cumprimentos.


GRÃO VASCO

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