Caro Fernando Seara,
Já lá vão muitos
anos, quando na nossa mocidade, ao cruzarmo-nos nos corredores do Liceu de
Viseu, tu, com esse sorriso ingénuo de sempre, de bigodinho juvenil e ainda com
o penteado em dia, me perguntavas:
-
Então, e o nosso Benfica?
E eu, com o habitual
fervor e inabalável fé clubística, ainda sem bigode e com o cabelo cortado à
escovinha, respondia:
- É
para ganhar, para ganhar sempre, seja contra quem for!
Se a minha memória
não me atraiçoa, seguiste, ainda pequenote para o Colégio Militar, cumprindo
uma tradição familiar por via do teu avô materno, o velho coronel Reboredo. Depois
regressaste, já no secundário e mais tarde na parte final, cada um seguiu o seu
caminho. Uns, letras, no teu caso Direito e outros, ciências. Mas sempre
Benfiquistas. Indefectíveis.
Tempos que já lá vão
e que não voltam mais.
Tempo de um apogeu do
Glorioso, que muitos dos que me lêem não sabem o que foi, em que se traduziu, o
que significou para os portugueses e para o próprio país.
Foi uma era
esplendorosa que obrigou a Europa a reconhecer Portugal como um país e não como
uma pobre província da Ibéria onde vegetava um bando de maltrapilhos, analfabetos,
mal vestidos e cheios de fome, e cuja representatividade internacional era
assegurada pelo Benfica, por Eusébio e pela grande Amália Rodrigues.
Fado e futebol nas
suas expressões portuguesas mais autênticas e que conseguiam mitigar em parte, a
opressão e as carências de todo um povo.
Depois, com a
libertinagem e o oportunismo que um regime democrático arrasta, os
revisionistas da história de um coio sediado a norte, liderados pelo maior
crápula de que há memória, tentaram reescrevê-la, lançando a maior blasfémia e
o maior insulto ao Glorioso, apelidando-o de clube do antigo regime.
Uma mentira torpe e
que demonstra o miserabilismo do mais reles grémio de aldrabões do desporto
português – o futebol clube do porto.
Contra o banditismo
selvagem, o sectarismo ordinário, o insulto provinciano, a mentira e a chicana,
esse Benfiquismo de sempre, um sentimento que não se consegue explicar,
sobreviveu a tudo.
E hoje, felizmente
para as gerações mais jovens, muitos Benfiquistas que viveram esses e outros
tempos gloriosos e ainda cá estão, são o testemunho vivo e o garante que essa
sociedade de sopranos à la Palermo,
não passará, não obstante alguns dos que deveriam ser a first line da defesa do Benfica começarem a assobiar para o lado, pois
bem sabemos que os resquícios do regime ditatorial continuam bem alocados a
essa agremiação portista.
Mas eles, não
passarão!
Caro Seara, vou
continuar a tratar-te por tu, como sempre te tratei, não obstante revelares
hoje uma grande erudição, um conhecimento vastíssimo, reconhecida competência
nas áreas profissional e política, uma cultura e uma elevação bem dignas de um filho
de Viseu, Benfiquista e meu contemporâneo de liceu e adolescência.
Vem esta introdução a
propósito de que é quase impossível e impensável chegar ao teu contacto, tal a
tua importância, o teu protagonismo, a tua qualificação política, intelectual e
profissional, o teu mediatismo, tal a distância entre uma figura pública como
tu e um simples anónimo Benfiquista sofredor como eu sou.
Mas não tenhas
dúvidas que tal como eu, há centenas de anónimos bem atentos ao desenrolar dos
acontecimentos.
Todos sabemos quão
importante é o mediatismo para algumas personalidades e tu, no programa em que participas
semanalmente – Prolongamento na TVI24 - sabe-lo melhor do que ninguém, para mais
a mais com a professora que
quotidianamente lá tens em casa.
No entanto, é
importante que tenhas sempre presente que o programa não é nenhum “fórum
intelectual” e que há milhões a verem-te, e atentos à tua prestação como
Benfiquista. És um dos actores principais, representas, quer queiras quer não,
o SLBenfica, e a tua participação é importantíssima e fundamental para a luta
que actualmente o Clube trava, e que de há alguns anos a esta parte se tornou
verdadeiramente titânica com os nossos 3/5 a lutar contra os outros 2/5 que
pelas tácticas subterrâneas empregues, mais parecem e muitas vezes são 4/5.
Poderás perguntar
porque que é que te faço esta alusão?
Pois bem, porque é patente
na maioria das edições do Prolongamento seres derrotado sempre por 2 a 1, mesmo
depois de ganhares ao sábado, ao domingo ou à 2ª feira. Passivamente, muitas
das tuas intervenções, reacções e atitudes no programa, mostram grande resignação
e alguma ingenuidade, dando a impressão que estás ali mais para cobrar uma
avença do que para defender o Glorioso.
Na tertúlia de amigos
Benfiquistas à qual eu pertenço, é claro que a tua prestação tem sido
àsperamente criticada, pela passividade e moleza da tua argumentação e da tua
postura a roçar a sonsice e a comicidade ridícula, com um revolver de mãos, uns
risinhos meios histéricos e um encolher de ombros impróprios para um programa
com algum mediatismo.
Acredita que às vezes
essa tua postura deprime, e os Benfiquistas ficam sèriamente embaraçados e
envergonhados ao ponto de desabafarem coisas do género:
- Então o homem
fica-se?
- Será que não temos
lá alguém que lhes “ferre forte e feio”, quando a dupla, representante da
“santa aliança” começa a “deitar as unhas de fora”?
- Quando é que o homem
pára de divagar e começa a “dar-lhes a sério”?
- Será que o professor
pensa que está numa aula, ou num “conselho de sábios”, a falar de erudito para
eruditos, e se esquece que a realidade é a do telespectador médio, que o vê
como adepto do SLBenfica, que é o que ele próprio telespectador é, seja
catedrático, pintor, artista, escriturário, pedreiro, porteiro, desempregado ou
reformado?
- Será que tu e nós
temos de passar pela mesma vergonha e humilhação semanas a fio?
Garanto-te Caro
Fernando Seara, que é esta, a imagem que projectas na “pantalha”. Ignorá-la é
ignorar a realidade e entrares no mundo do faz de conta. A audiência
Benfiquista fica incomodada ao ver a sessão de gozo que levas de um “charlatão”
que por norma traz a lição muito bem estudada, sempre com uma argumentação
falaciosa, “besuntando a sua sebosa e mastigada verborreia com uma camada de
vaselina”, indo sempre, mas sempre, sub-reptìciamente, “ferrar o aguilhão” em
ti e no SLBenfica, para gáudio da turba anti-benfiquista,!
Esta é a opinião
partilhada por centenas de benfiquistas que conheço e que como eu ficam tristes
e incomodados com esta situação.
Peço-te que
interpretes estas críticas como um contributo para a melhoria das tuas
“performances televisivas” sem nenhuma intenção destrutiva ou ofensiva ao teu
carácter e à tua personalidade!
Não digo, de maneira
nenhuma para abdicares da tua elevada urbanidade, da tua formação, da tua
educação, mas que terás de ser muito mais incisivo, acutilante e “mediático” no
sentido de elucidares devidamente a maioria das pessoas que te está a ver e a
ouvir, abdicando por largos momentos da tua “erudição” e do teu “discurso
professoral e teórico”, que nas circunstâncias descritas acima se torna
incompreendido e insosso, e alvo de chacota dos teus “amigos” de programa.
A tua postura, nestes
casos é contraproducente, e só dá trunfos aos adversários.
Como te digo, o
resultado é habitualmente de 2 a 1, contra ti e contra nós, Benfiquistas, sem
conseguires a reviravolta à Benfica que todos nós estamos sempre à espera!
O que me levou a
dirigir-te esta missiva foi aquilo que ocorreu no último programa, pois constituiu
para ti, um verdadeiro desastre mediático.
Cada um faz a cama
que quer e deita-se com quem quer.
Cada um come com quem
quer à mesa.
O problema é só dele
e de mais ninguém e as acções como diz aquele lugar comum, “ficam com quem as
pratica”.
Não sei se alguma vez
ouviste as escutas telefónicas relacionadas com o Apito Dourado. Pela tua
conversa tão assertiva e tão “pura” em relação à justiça deste país, defendendo
a magistratura como um “dogma absoluto” concluí que nunca ouviste essa
vergonha, essa nódoa negra de um país onde a impunidade grassa. Mas uma coisa posso
contrapor também a essa defesa que fazes da intocabilidade ou infalibilidade da
magistratura – ninguém está acima da lei!
Ninguém!
E se estivesses um
pouco mais atento e te deixasses das habituais divagações patetas e patéticas
com que brindas a plateia que assiste ao programa, de certeza que não irias por
esses caminhos nem darias a triste imagem que deste nesta última edição.
Cego é aquele que não
quer ver e a percepção que ficou é que enviaste alguns recados a alguém que te
fez reparos legítimos.
E se por acaso, o meu
melhor amigo me convidasse para jantar, fosse no Gambrinus ou na Tasca do Zé
dos Pirolitos, com um dos maiores impostores e canalhas deste país, com uma
vida pessoal e conjugal sem escrúpulos, sendo também o mais execrável inimigo
da entidade pela qual luto e à qual julgo que ainda pertences e da qual és
adepto e sócio, garanto-te que por mais que gostasse de uma portista assumida,
também ela supostamente convidada, declinaria sempre esse convite.
Lá diz o ditado:
- “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.
Mas cada um é como
cada qual, e tal como nos filmes de acção, há muita gente que gosta de fazer
piruetas no fio da navalha e de dormir com o inimigo.
No entanto, “dormir”
com dois ou com três é absolutamente surreal. Mas nesta matéria vamos ficar por
aqui, pois a intimidade de cada um é absolutamente intocável e respeitável.
Caro Fernando Seara,
na 2ª feira acabaste por descer pelas escadas dos fundos do Templo Sagrado. Não
creio que consigas, nem tenhas vontade de subi-las novamente.
O teu "prolongamento" é
um caminho penoso que só adia a tua derrota perante a esmagadora maioria dos
Benfiquistas.
Acaba com aquele
triste espectáculo à 2ª feira de uma vez por todas!
Cumprimentos.
GRÃO VASCO