Há menos de um ano
Jardel deixou Alvalade em estado de choque. Num derradeiro ímpeto, o humilde
mas eficaz defesa-central brasileiro do Benfica calou um estádio inteiro,
lançando por terra as bazófias abarrosadas
do lagartêdo, segurando assim a
liderança que nos conduziu ao bicampeonato. Um clamor imenso percorreu o país e
a diáspora.
No domingo passado,
Jonas fez o mesmo. O futuro nos dirá se esse momento foi um bom prenúncio para
alcançarmos o tri. Para já, foi um precioso contributo. O clamor regressou
novamente, mas desta vez houve uma diferença. Jonas fez explodir de alegria um
estádio repleto de Benfiquistas.
O início da noite no anfiteatro
do Bessa antevia-se quente, quase, quase a fervilhar. Num palco
tradicionalmente difícil para o Benfica, nem os aguaceiros arrefeceram os
ânimos e assim a regra manteve-se – o Boavista jogou como se não houvesse
amanhã.
Com o soar do gongo cada
vez mais próximo, num zero a zero perturbador, a intensidade do jogo aumentava
numa espiral incontrolável e imprevisível. O Benfica, num último fôlego
preparando o assalto final, e o seu adversário, contido, tentando descobrir uma
nesga para “matar” o jogo em contra-ataque. Um suspense digno de Hitchcock.
O café do bairro,
habitual quartel-general de muitos Benfiquistas em dias de jogos do Glorioso,
tinha a lotação esgotada. A ansiedade, desde o primeiro minuto do desafio
crescia exponencialmente e esses minutos finais geraram uma enorme tensão que
teve o seu pico máximo no momento em que Jonas, com muita classe e sangue-frio,
rematou, imparável, para o golo de uma vitória gloriosa.
Nunca tinha visto nada
assim naquele pequeno espaço. A carga emocional de todos aqueles indefectíveis
adeptos estava tão elevada que o clamor daqueles momentos que se seguiram ao
golo ultrapassou, seguramente, a centena de decibéis. Uma descarga tremenda de
energia que fez abanar e bem aquele mini estádio da Luz, como muitos outros iguais
espalhados pelo país e pelo mundo fora. Tal como eles, senti uma alegria indescritível,
mas já não consegui ver os três minutos finais que se seguiram. Tenho medo do
meu coração. Mas sei que o Bessa agreste não ofuscou a exultação de uma massa
adepta gloriosa e única.
Mas, após aqueles
momentos loucos percorridos a uma velocidade sideral, logo todos também regressaram
à Terra. “Nada ainda está ganho!”-
comentava-se com realismo. Uma lapalissada
que é também uma verdade incontornável. As finais que faltam vão ter que ser
ganhas com sangue, suor e lágrimas. Com raça e com inteligência. Com união. A união
que nos faz mais fortes e que poderá muito bem consagrar-nos novamente como campeões.
Uma palavra de muito
apreço para os nossos “Bravos do Pelotão” que foram de uma entrega total,
independentemente de terem estado ou não no seu patamar exibicional normal.
Quanto ao adversário, breves referências para alguns dos seus jogadores com destaque
especial para Rúben Ribeiro, um perneta nascido em Ramalde, que acordou estremunhado
para o futebol aos 28 anos, uns dias antes de defrontar o Benfica e cujo pai, disse
arrogante e textualmente, naquele tom boçal e anti-benfiquista - “o meu filho vai rebentar com o Benfica”.
A raiva, a fúria, as farsas, a teatralidade parola, as provocações a Renato
Sanches, a Samaris, o jogo rasteiro sobre Jonas, alguma intimidação, os
insultos perceptíveis em várias imagens televisivas, tudo isto foi demasiado
para quem luta para não descer de divisão.
Correram alvíssaras? Se
sim, esfumaram-se ao minuto 92 por entre os dedos axadrezados.
A nossa luta continua.
Sem esmorecimentos!
GRÃO VASCO