22.3.16

O minuto de Jonas e Jardel



Há menos de um ano Jardel deixou Alvalade em estado de choque. Num derradeiro ímpeto, o humilde mas eficaz defesa-central brasileiro do Benfica calou um estádio inteiro, lançando por terra as bazófias abarrosadas do lagartêdo, segurando assim a liderança que nos conduziu ao bicampeonato. Um clamor imenso percorreu o país e a diáspora.

 

No domingo passado, Jonas fez o mesmo. O futuro nos dirá se esse momento foi um bom prenúncio para alcançarmos o tri. Para já, foi um precioso contributo. O clamor regressou novamente, mas desta vez houve uma diferença. Jonas fez explodir de alegria um estádio repleto de Benfiquistas.

 

O início da noite no anfiteatro do Bessa antevia-se quente, quase, quase a fervilhar. Num palco tradicionalmente difícil para o Benfica, nem os aguaceiros arrefeceram os ânimos e assim a regra manteve-se – o Boavista jogou como se não houvesse amanhã.

 

Com o soar do gongo cada vez mais próximo, num zero a zero perturbador, a intensidade do jogo aumentava numa espiral incontrolável e imprevisível. O Benfica, num último fôlego preparando o assalto final, e o seu adversário, contido, tentando descobrir uma nesga para “matar” o jogo em contra-ataque. Um suspense digno de Hitchcock.

 

O café do bairro, habitual quartel-general de muitos Benfiquistas em dias de jogos do Glorioso, tinha a lotação esgotada. A ansiedade, desde o primeiro minuto do desafio crescia exponencialmente e esses minutos finais geraram uma enorme tensão que teve o seu pico máximo no momento em que Jonas, com muita classe e sangue-frio, rematou, imparável, para o golo de uma vitória gloriosa.

Nunca tinha visto nada assim naquele pequeno espaço. A carga emocional de todos aqueles indefectíveis adeptos estava tão elevada que o clamor daqueles momentos que se seguiram ao golo ultrapassou, seguramente, a centena de decibéis. Uma descarga tremenda de energia que fez abanar e bem aquele mini estádio da Luz, como muitos outros iguais espalhados pelo país e pelo mundo fora. Tal como eles, senti uma alegria indescritível, mas já não consegui ver os três minutos finais que se seguiram. Tenho medo do meu coração. Mas sei que o Bessa agreste não ofuscou a exultação de uma massa adepta gloriosa e única.

 

Mas, após aqueles momentos loucos percorridos a uma velocidade sideral, logo todos também regressaram à Terra. “Nada ainda está ganho!”- comentava-se com realismo. Uma lapalissada que é também uma verdade incontornável. As finais que faltam vão ter que ser ganhas com sangue, suor e lágrimas. Com raça e com inteligência. Com união. A união que nos faz mais fortes e que poderá muito bem consagrar-nos novamente como campeões.

 

Uma palavra de muito apreço para os nossos “Bravos do Pelotão” que foram de uma entrega total, independentemente de terem estado ou não no seu patamar exibicional normal. Quanto ao adversário, breves referências para alguns dos seus jogadores com destaque especial para Rúben Ribeiro, um perneta nascido em Ramalde, que acordou estremunhado para o futebol aos 28 anos, uns dias antes de defrontar o Benfica e cujo pai, disse arrogante e textualmente, naquele tom boçal e anti-benfiquista - “o meu filho vai rebentar com o Benfica”. A raiva, a fúria, as farsas, a teatralidade parola, as provocações a Renato Sanches, a Samaris, o jogo rasteiro sobre Jonas, alguma intimidação, os insultos perceptíveis em várias imagens televisivas, tudo isto foi demasiado para quem luta para não descer de divisão.

Correram alvíssaras? Se sim, esfumaram-se ao minuto 92 por entre os dedos axadrezados.

 

A nossa luta continua. Sem esmorecimentos!


GRÃO VASCO


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