Segunda-feira foi dia de ressaca. A noite de domingo tinha sido penosa, um autêntico terror. Não só pela insegurança vivida em Palermo mas também pelo cruel vexame que trouxe da pocilga corrupta, ao ver Jesus percorrer um calvário longo e doloroso com os seus discípulos à espera de um milagre, rogando-lhe para os tirar daquele pesadelo em que se encontravam.
Como nunca obedeci caninamente a ninguém, não lambi as minhas feridas – um procedimento habitual dos andrades corruptos – mas fui dar de beber à dor e afogar as minhas mágoas.
Rebobinando o meu velho filme das intermináveis noites de boémia, vislumbrei um espaço marcante do meu tempo de menino e moço – a tasca do senhor Horácio.
A tasca do senhor Horácio era uma taberna igual a tantas outras que proliferavam nesse tempo, quer na cidade quer na mais recôndita aldeia da província. O dono, o senhor Horácio, era um adepto ferrenho do Çeportén – escrevo o nome desta agremiação com um Ç cedilhado, em homenagem a um clube turco, o Gençelerbirligi – mas lidava bem com as rivalidades. Por isso tinha uma clientela copofónica boa e variada. Tinha investido num pequeno televisor, um Nora, que ao tempo era um luxo e uma novidade, mas que transformou ràpidamente aquela “venda”, numa autêntica Babel de adeptos de futebol, com predominância para os benfiquistas e çeporténguistas.
Começou aí a grande oportunidade de ver em acção os nossos ídolos e as nossas equipas de futebol de coração. As imagens dos jogos a preto e branco quase tomavam as cores das respectivas equipas, tal era o fervor com que os presentes assistiam aos desafios. E não raras foram as vezes em que a bola saltou para fora do ecrã, quando o vinho corria demasiado pelas goelas abaixo, na comemoração de cada golo e de mais uma vitória, ou na revolta de uma derrota injusta. Noutras vezes já nem se detectavam os off-sides, tal era a densa núvem de fumo dos cigarros consumidos nervosamente e em catadupa.
Numa onda de revivalismo, optei mesmo por decretar feriado nacional ao jantar caseiro e aceitar o convite de um amigo de longa data, o Andrade Amorim, caixeiro-viajante da Invicta que como o nome tão bem sugere, era e é um prosélito fanático da doutrina de Giorgio e que ao fim da tarde de segunda-feira ainda saudava os transeuntes conhecidos com os cinco dedos bem abertos da sua mão. E para amenizar a minha dor, nada melhor que um bom petisco onde o néctar brotasse de pipa de confiança. A rota estava traçada e o destino foi mesmo a tasca do senhor Horácio.
Iríamos também assistir ao Çeportén-Guimarães, um jogo que para o Andrade nem aquecia, nem arrefecia, já que como ele às vezes dizia… – “os submissos da Mouraria têm-se portado bem connosco, basta ver que nos venderam de borla o João Moutinho…
Já para mim e pelo que tinha presenciado aquando do jogo do Benfica no domingo, com toda a lagartagem na associação filarmónica, aos pulos por cada golo que o Benfica sofria, não me era indiferente o resultado – queria ver o Martim Moniz, oficial de D. Afonso Henriques entalado nas portas do Castelo de S.Jorge e como é que o Çeportén iria descalçar essa bota…
Ao chegarmos, mesmo sobre a hora, entrando por aquelas inesquecíveis portinholas de vaivém, curtas e de cor verde, tipo mini-saia, formadas por dezenas de pequenas ripas horizontais em estilo veneziano, fazendo lembrar, curiosamente, os célebres saloons do far west americano, sorri e imaginei o cenário de outros tempos. A fiel clientela da taberna já a dirigir-se para uma pequena sala escura adjacente ao balcão, com grandes e grossas traves de castanho que fazia as vezes de adega e onde precisamente se encontrava a caixa mágica das emoções. Na linha da frente, mesmo por debaixo do televisor, sentados em mochos e em frente às pipas de vinho lá estava a linha avançada dos lagartos – o Corvina TS, que conforme o nome indica, gozava de fama duvidosa, o Carvalho da vinícola, um expert em sumo de uva destilado e em sueca, o Rogério “Pardal”, escrivão no notário e um fala-barato incorrigível e o Augustinho enfermeiro, especialista na aplicação de pomadas vinhateiras. Atrás, na segunda linha e de lado, sentados em cima de uma comprida tábua que cobria as grades de cerveja e que nestas alturas fazia de terceiro anel, a nata do Glorioso - o “Barraca”, um velhote de poucas conversas e com uns óculos muito graduados, que na tasca, se entretinha a comer amendoins e a beber cerveja Sagres preta e que a pedido da malandragem desenhava em papel de embrulho umas gajas nuas para todos os gostos, o “Mitra”, ajudante de tipógrafo, que tinha sete filhos e fintava a fome com umas taças de tinto, o Manel barbeiro, exímio em macetes na sueca e cuja “ementa” preferida na tasca, era cebola crua, rachada, temperada com sal grosso e vinagre de vinho tinto e o "Phinóia dos taninos" (com Ph, como ele tanto gostava de salientar), sapateiro, nessa altura líder político incontestado da UDP no comité lá do bairro e candidato a presidente da junta de freguesia. Um elenco de luxo, a pedir meças a qualquer staff da UEFA ou da FIFA. Mas para mim era muito mais do que isso. Era uma colecção de cromos ao vivo, de adeptos genuínos, sem direito a caderneta. A clubite, o analfabetismo, a boçalidade, o empirismo e o saber feito da experiência deixavam sempre antever uma mistura complexa, sempre pronta a explodir. Mas não, nunca aconteceu nada que acabasse com aqueles convívios socio-futebolísticos e nem as esporádicas escaramuças verbais etilizadas, à posteriori, ofuscavam aqueles momentos divertidos quando ouvia da parte de cada um, as suas chalaças em relação aos seus rivais. Um cenário pouco dado a exaltações ou situações de conflito, mesmo quando num lance mais duvidoso as vozes subiam de tom. Aí, e muito excepcionalmente, o papagaio “Jacó” com o seu fraque cinzento e vermelho lá dava o sinal de alarme por indicação do dono – três vezes “calou!” e um melodioso assobio bastavam para que se ouvisse uma grande risada na assistência.
Entre todos, e apesar da grande rivalidade, pouco se falava da desgraça alheia, isto é, as derrotas dos adversários com outras equipas não eram usadas como armas de arremesso, como hoje frequentemente acontece. Fazia parte da “ética”. Assim nem o vinho azedava, nem o carapau de escabeche se estragava. Mas como também é habitual nestas coisas, havia sempre alguém diferente que primava pela provocação barata e que não se coibia de lançar o seu veneno e azedume logo que a oportunidade surgisse – Rogério “Pardal”, presidente da assembleia-geral do grémio de futebol do bairro, adepto cego do Çeportén, de cultura acima da média, com uma prosápia treinada ao longo de anos e anos, era mestre nos dichotes, e lá vinha, volta meia volta, com as suas frases acintosas que faziam as delícias dos seus correligionários e atormentavam os benfiquistas. Por exemplo, são célebres as suas farpas a propósito de uma copiosa derrota do Glorioso nas Antas:
- “Um Benfica fanfarrão levou banho de humildade”. “Não escondo a alegria desportiva por ver o Benfica naquelas aflições”.
Nunca falhava. Nestas alturas lá vinham as indigestas alfinetadas no seu ódio de estimação.
No entanto tinha começado o jogo e a fanfarronada continuava já com dois a zero para a lagartagem. Até o Waldemerda, um aborto artístico, contratado especialmente para relatar os jogos na TV, já esfregava as mãos e esticava a língua, avançando com um segundo lugar para o Çeportén, em igualdade de pontos com o agora terceiro, o Benfica, esquecendo-se que o Glorioso neste campeonato já tinha vencido o seu clube de coração, na Luz, por dois a zero.
Voltei a ver a brigada leonina de antanho a fazer a festa antecipada emalando mais um pirolito, dois “penaltys” e quatro traçadinhos. A comemoração continuava em grande – à frente do Benfica e honrosamente no segundo lugar, o primeiro dos últimos!
Mas num ápice tudo mudou. A quinze minutos do fim, a “coisa” começou a correr mal. Maniche, que ainda pensava que vestia de azul e branco e que podia jogar wrestling como fazia na sua querida pocilga corrupta, desatou ao pontapé ao adversário e foi expulso. Logo depois, em dez minutos a “coisa” ficou ainda mais feia com dois a dois. E sobre a hora, os “excursionistas” do Vitória Guimarães matam a partida com o terceiro golo, para gáudio do cretino do vintém!
Desastre total, com o Barraca, o Mitra, o barbeiro e o Phinóia, sentados em cima das pipas, de perna traçada, imitando com vozes abagaçadas Luis Piçarra no seu hino ao Benfica, numa atitude de puro gozo. Rogério “Pardal” com umas trombas que chegavam até à Aguieira, balbuciava qualquer coisa como isto:
- “Porra! Como é que podemos ganhar se um “Gralha” se transforma numa “Águia”? O árbitro é do Benfica e pronto, lá teve de expulsar o santinho do Maniche! O que é que fez o Maniche, hã? O que é que ele fez, digam-me? Não fez nada, nada, digo eu! Que culpa é que ele tem, que o gajo do Guimarães venha bater com a barriga da perna nos pitons das suas chuteiras?
A linha avançada do Benfica continuava a rir-se.
Após esta cena hilariante, como que num toque de mágica, todas aquelas figuras se esfumaram na bruma do tempo.
Saí daquele sótão de recordações muito bem disposto. A dor já tinha abrandado e as minhas mágoas desaparecido perante o espectáculo único que presenciei fora das quatro linhas e no meio daquelas vetustas pipas. Andrade Amorim, como que confortando Rogério “Pardal” e os restantes çeporténguistas lá arengava para os seus botões:
- “Fica para a próxima…”.
Ao chegar a casa liguei a rádio e abri o computador. Comecei por ler as declarações desportivas que durante o dia estiveram em evidência. Sobressaíram as de Rogério Alves, iguaizinhas às de Rogério “Pardal”.
Agora já não tinha dúvidas. Desportivamente, Rogério Alves, ex-bastonário da Ordem dos Advogados e presidente da assembleia-geral do Çeportén SAD, nunca passou de um genuíno adepto de tasca.
Os meus parabéns!
GRÃO VASCO
Como nunca obedeci caninamente a ninguém, não lambi as minhas feridas – um procedimento habitual dos andrades corruptos – mas fui dar de beber à dor e afogar as minhas mágoas.
Rebobinando o meu velho filme das intermináveis noites de boémia, vislumbrei um espaço marcante do meu tempo de menino e moço – a tasca do senhor Horácio.
A tasca do senhor Horácio era uma taberna igual a tantas outras que proliferavam nesse tempo, quer na cidade quer na mais recôndita aldeia da província. O dono, o senhor Horácio, era um adepto ferrenho do Çeportén – escrevo o nome desta agremiação com um Ç cedilhado, em homenagem a um clube turco, o Gençelerbirligi – mas lidava bem com as rivalidades. Por isso tinha uma clientela copofónica boa e variada. Tinha investido num pequeno televisor, um Nora, que ao tempo era um luxo e uma novidade, mas que transformou ràpidamente aquela “venda”, numa autêntica Babel de adeptos de futebol, com predominância para os benfiquistas e çeporténguistas.
Começou aí a grande oportunidade de ver em acção os nossos ídolos e as nossas equipas de futebol de coração. As imagens dos jogos a preto e branco quase tomavam as cores das respectivas equipas, tal era o fervor com que os presentes assistiam aos desafios. E não raras foram as vezes em que a bola saltou para fora do ecrã, quando o vinho corria demasiado pelas goelas abaixo, na comemoração de cada golo e de mais uma vitória, ou na revolta de uma derrota injusta. Noutras vezes já nem se detectavam os off-sides, tal era a densa núvem de fumo dos cigarros consumidos nervosamente e em catadupa.
Numa onda de revivalismo, optei mesmo por decretar feriado nacional ao jantar caseiro e aceitar o convite de um amigo de longa data, o Andrade Amorim, caixeiro-viajante da Invicta que como o nome tão bem sugere, era e é um prosélito fanático da doutrina de Giorgio e que ao fim da tarde de segunda-feira ainda saudava os transeuntes conhecidos com os cinco dedos bem abertos da sua mão. E para amenizar a minha dor, nada melhor que um bom petisco onde o néctar brotasse de pipa de confiança. A rota estava traçada e o destino foi mesmo a tasca do senhor Horácio.
Iríamos também assistir ao Çeportén-Guimarães, um jogo que para o Andrade nem aquecia, nem arrefecia, já que como ele às vezes dizia… – “os submissos da Mouraria têm-se portado bem connosco, basta ver que nos venderam de borla o João Moutinho…
Já para mim e pelo que tinha presenciado aquando do jogo do Benfica no domingo, com toda a lagartagem na associação filarmónica, aos pulos por cada golo que o Benfica sofria, não me era indiferente o resultado – queria ver o Martim Moniz, oficial de D. Afonso Henriques entalado nas portas do Castelo de S.Jorge e como é que o Çeportén iria descalçar essa bota…
Ao chegarmos, mesmo sobre a hora, entrando por aquelas inesquecíveis portinholas de vaivém, curtas e de cor verde, tipo mini-saia, formadas por dezenas de pequenas ripas horizontais em estilo veneziano, fazendo lembrar, curiosamente, os célebres saloons do far west americano, sorri e imaginei o cenário de outros tempos. A fiel clientela da taberna já a dirigir-se para uma pequena sala escura adjacente ao balcão, com grandes e grossas traves de castanho que fazia as vezes de adega e onde precisamente se encontrava a caixa mágica das emoções. Na linha da frente, mesmo por debaixo do televisor, sentados em mochos e em frente às pipas de vinho lá estava a linha avançada dos lagartos – o Corvina TS, que conforme o nome indica, gozava de fama duvidosa, o Carvalho da vinícola, um expert em sumo de uva destilado e em sueca, o Rogério “Pardal”, escrivão no notário e um fala-barato incorrigível e o Augustinho enfermeiro, especialista na aplicação de pomadas vinhateiras. Atrás, na segunda linha e de lado, sentados em cima de uma comprida tábua que cobria as grades de cerveja e que nestas alturas fazia de terceiro anel, a nata do Glorioso - o “Barraca”, um velhote de poucas conversas e com uns óculos muito graduados, que na tasca, se entretinha a comer amendoins e a beber cerveja Sagres preta e que a pedido da malandragem desenhava em papel de embrulho umas gajas nuas para todos os gostos, o “Mitra”, ajudante de tipógrafo, que tinha sete filhos e fintava a fome com umas taças de tinto, o Manel barbeiro, exímio em macetes na sueca e cuja “ementa” preferida na tasca, era cebola crua, rachada, temperada com sal grosso e vinagre de vinho tinto e o "Phinóia dos taninos" (com Ph, como ele tanto gostava de salientar), sapateiro, nessa altura líder político incontestado da UDP no comité lá do bairro e candidato a presidente da junta de freguesia. Um elenco de luxo, a pedir meças a qualquer staff da UEFA ou da FIFA. Mas para mim era muito mais do que isso. Era uma colecção de cromos ao vivo, de adeptos genuínos, sem direito a caderneta. A clubite, o analfabetismo, a boçalidade, o empirismo e o saber feito da experiência deixavam sempre antever uma mistura complexa, sempre pronta a explodir. Mas não, nunca aconteceu nada que acabasse com aqueles convívios socio-futebolísticos e nem as esporádicas escaramuças verbais etilizadas, à posteriori, ofuscavam aqueles momentos divertidos quando ouvia da parte de cada um, as suas chalaças em relação aos seus rivais. Um cenário pouco dado a exaltações ou situações de conflito, mesmo quando num lance mais duvidoso as vozes subiam de tom. Aí, e muito excepcionalmente, o papagaio “Jacó” com o seu fraque cinzento e vermelho lá dava o sinal de alarme por indicação do dono – três vezes “calou!” e um melodioso assobio bastavam para que se ouvisse uma grande risada na assistência.
Entre todos, e apesar da grande rivalidade, pouco se falava da desgraça alheia, isto é, as derrotas dos adversários com outras equipas não eram usadas como armas de arremesso, como hoje frequentemente acontece. Fazia parte da “ética”. Assim nem o vinho azedava, nem o carapau de escabeche se estragava. Mas como também é habitual nestas coisas, havia sempre alguém diferente que primava pela provocação barata e que não se coibia de lançar o seu veneno e azedume logo que a oportunidade surgisse – Rogério “Pardal”, presidente da assembleia-geral do grémio de futebol do bairro, adepto cego do Çeportén, de cultura acima da média, com uma prosápia treinada ao longo de anos e anos, era mestre nos dichotes, e lá vinha, volta meia volta, com as suas frases acintosas que faziam as delícias dos seus correligionários e atormentavam os benfiquistas. Por exemplo, são célebres as suas farpas a propósito de uma copiosa derrota do Glorioso nas Antas:
- “Um Benfica fanfarrão levou banho de humildade”. “Não escondo a alegria desportiva por ver o Benfica naquelas aflições”.
Nunca falhava. Nestas alturas lá vinham as indigestas alfinetadas no seu ódio de estimação.
No entanto tinha começado o jogo e a fanfarronada continuava já com dois a zero para a lagartagem. Até o Waldemerda, um aborto artístico, contratado especialmente para relatar os jogos na TV, já esfregava as mãos e esticava a língua, avançando com um segundo lugar para o Çeportén, em igualdade de pontos com o agora terceiro, o Benfica, esquecendo-se que o Glorioso neste campeonato já tinha vencido o seu clube de coração, na Luz, por dois a zero.
Voltei a ver a brigada leonina de antanho a fazer a festa antecipada emalando mais um pirolito, dois “penaltys” e quatro traçadinhos. A comemoração continuava em grande – à frente do Benfica e honrosamente no segundo lugar, o primeiro dos últimos!
Mas num ápice tudo mudou. A quinze minutos do fim, a “coisa” começou a correr mal. Maniche, que ainda pensava que vestia de azul e branco e que podia jogar wrestling como fazia na sua querida pocilga corrupta, desatou ao pontapé ao adversário e foi expulso. Logo depois, em dez minutos a “coisa” ficou ainda mais feia com dois a dois. E sobre a hora, os “excursionistas” do Vitória Guimarães matam a partida com o terceiro golo, para gáudio do cretino do vintém!
Desastre total, com o Barraca, o Mitra, o barbeiro e o Phinóia, sentados em cima das pipas, de perna traçada, imitando com vozes abagaçadas Luis Piçarra no seu hino ao Benfica, numa atitude de puro gozo. Rogério “Pardal” com umas trombas que chegavam até à Aguieira, balbuciava qualquer coisa como isto:
- “Porra! Como é que podemos ganhar se um “Gralha” se transforma numa “Águia”? O árbitro é do Benfica e pronto, lá teve de expulsar o santinho do Maniche! O que é que fez o Maniche, hã? O que é que ele fez, digam-me? Não fez nada, nada, digo eu! Que culpa é que ele tem, que o gajo do Guimarães venha bater com a barriga da perna nos pitons das suas chuteiras?
A linha avançada do Benfica continuava a rir-se.
Após esta cena hilariante, como que num toque de mágica, todas aquelas figuras se esfumaram na bruma do tempo.
Saí daquele sótão de recordações muito bem disposto. A dor já tinha abrandado e as minhas mágoas desaparecido perante o espectáculo único que presenciei fora das quatro linhas e no meio daquelas vetustas pipas. Andrade Amorim, como que confortando Rogério “Pardal” e os restantes çeporténguistas lá arengava para os seus botões:
- “Fica para a próxima…”.
Ao chegar a casa liguei a rádio e abri o computador. Comecei por ler as declarações desportivas que durante o dia estiveram em evidência. Sobressaíram as de Rogério Alves, iguaizinhas às de Rogério “Pardal”.
Agora já não tinha dúvidas. Desportivamente, Rogério Alves, ex-bastonário da Ordem dos Advogados e presidente da assembleia-geral do Çeportén SAD, nunca passou de um genuíno adepto de tasca.
Os meus parabéns!
GRÃO VASCO