29.9.13

Os árbitros da tribo “Vesselhocu”


Dada a indisponibilidade de fotos de árbitros da tribo “Vesselhocu”, segue a mais parecida que temos e que na realidade é a verdadeira caricatura do apitadeiro Hugo Miguel

 

Na minha mais recente expedição ao Pacífico Sul em busca de civilizações ancestrais, encontrei na selva profunda de uma das suas maiores ilhas, perdida nas suas entranhas, uma tribo cuja maioria dos seus homens coxeavam ou eram pernetas. Outros, poucos, alimentavam-se exclusivamente através de uma palhinha.

 

Que fenómeno nunca visto!

 

Admiti que houvesse por ali algum predador que por vezes se banqueteasse alarvemente com alguma suculenta perna humana. Mas não, não havia felinos por aqueles lugares. Só macacos orangotangos como na federação portuguesa futeboleira. Coloquei a hipótese da existência de tribos vizinhas antropófogas. Também não. Seria algum problema hereditário causado por algum cromossoma? Não. A equipa medico-científica que nos acompanhava foi categórica, afastando de imediato essa derradeira hipótese.

 

Afinal a “estória” era outra…

 

Quem ma contou foi o feiticeiro da tribo. Numa noite sufocante, tropical, à volta da fogueira para afastar a mosquitada, o homem, tolhido e encolhido, falou, falou, falou, gesticulou, mas sempre, sempre de cócoras, balbuciando por vezes em delírio e nuns sons guturais algo como, “nandú, nandú, facturaz, facturaz”.

E assim, fiquei a saber que aqueles homens estropiados que eu vi e cujo amuleto que traziam pendurado num fio à volta do pescoço, era um apito dourado com a esfinge de um ex-guarda prisional do Freixo, gravada na sua base – não imagino onde este povo foi adquirir semelhante adereço - e que com algumas dificuldades carregavam penosamente cestos e cestos de fruta tropical, afinal eram árbitros.

 

- “Árbitros?!?” – perguntei estupefacto.

 

(-“Querem lá ver que já vi este filme no cinema?” – indaguei eu para com os meus botões.)

 

- “Sim, árbitros!” – respondeu-me com ar grave o feiticeiro, sempre de cócoras.

 

Na realidade, eram mesmo árbitros. As suas “prometedoras” carreiras tinham acabado abruptamente quando a luta entre as tribos indígenas, há alguns anos atrás tinha atingido o auge. E os factos, esses, contam-se numa penada.

Uma tribo, a norte, jogando na trapaça e com a ajuda e conivência destes “apitadeiros primitivos”, apoderava-se fraudulentamente e quase sempre dos troféus em disputa. Paradoxalmente, a tribo mais competitiva, a sul, mesmo fazendo grandes exibições com altas notas artísticas e com grandes resultados, perdia sempre. Era constantemente escamoteada.

Um dia, já cansada de tanta batota, essa tribo do sul, revoltou-se.

 

- “É por isso que tu, Feiticeiro Vermelho, vês hoje e aqui, alguns daqueles meus compagnons de route (onde é que aquele aborígene foi aprender este galicismo?) sem uma das pernas ou imobilizados, a alimentarem-se por uma palhinha” – disse o curandeiro da tribo, ainda e sempre de cócoras.

 

- “Então, e os que coxeiam?” – questionei, intrigado.

 

- “Ah, esses… bem… esses… foram atingidos por estilhaços de granada ou “chumbados” por alguns caçadores furtivos durante a 2ª Grande Guerra Mundial,… mas… mas contam as más-línguas que a “estória” é outra, pois a guerra já acabou há quase setenta anos…, talvez fogachos, meu caro, talvez fogachos de caçadeira...” – respondeu, titubeante “o de cócoras”.

 

Nesse preciso momento, o realizador da reportagem televisiva, que acompanhava a expedição, voltou-se para o indígena e gritou:

- “ Siga para bingo, ó Tavares!”

 

A expedição acabou aí.

Afinal eu estava só a sonhar com a carga de água que caiu ontem na Luz!

 

 

 


GRÃO VASCO


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