De
há uns tempos a esta parte é assim todas as terças-feiras à noite. Pelo passeio
da minha rua acima, lá vem ele arfando, de língua de fora e com o pêlo mal-amanhado.
É o rafeiro do bairro, o Xico,
resgatado ao Canil da Insolvência
pelo sr. Costa, um fulano de oitenta
anos, também sempre a contas com a justiça, tendo desempenhado as funções de
gerente do caixa e conhecido na comunidade como devoto da santa, mulherengo e refinado
aldrabão condenado em processos de corrupção. Pela trela, lá segue o Xico, comandando a matilha, à espera de
mais uma alcagoita, mirando desconfiado o dono, que por sua vez se vai peidando
ao ritmo pachorrento das suas passadas enquanto declama “Só” de António Nobre. Simplesmente hilariante!
Junto
às escadas de acesso ao infantário no rés-do-chão do meu prédio, Xico pára. Está na hora de arriar o calhau com toda a pompa e circunstância.
O animal, com os olhos esbugalhados por detrás de uns óculos horríveis, zás! Já
está! Quatro e-mails sêcos e
transformados em merda! O Xico rafeiro
não o faz por menos. Delacroix um
velho canídeo da matilha que outrora latia desalmadamente nos telejornais da
RTPalermo, ao ver a cena, vai abanando a sua cabeçorra para cima e para baixo,
tal e qual como aqueles cães de loiça comprados nas feiras que muitos parolos
colocavam na consola traseira dos automóveis.
Nesse
entrementes, o dono, o sr. Costa, pigarreando, alça o pernil e lança mais dois ruidosos morteiros para a atmosfera ao mesmo tempo que num relance, mira os
prédios circundantes certificando-se de que não há olhares indiscretos a
espiarem aquela pouca vergonha. Depois, como quem não quer a coisa começa aos
poucos e poucos a arrastar os cagalhotos
do seu cão com os pés, chutando-os logo de seguida para a berma do passeio.
Saco para os dejectos é que “tá queto!...”
Será
que estaria a sonhar e a vislumbrar algum programa do Porto Canil? Ou será
mesmo do Porto Canal?
GRÃO VASCO