O
“Portunhol”, um idioma peninsular de
outrora e que estava relegado há muitos anos para o baú das nossas mais cómicas
recordações, foi na inesquecível noite da pretérita quarta-feira, brilhantemente
rejuvenescido e reavivado no flash
interview e na sala de imprensa do estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, após
o desafio que opôs o Real ao grémio do
fôsso, pelo mestre poliglota da Universidade da Amadora. Quem sabe se, após
este pitoresco episódio, num futuro próximo, o Ministério da Educação não o
incluirá já como disciplina obrigatória no programa do ensino básico e
secundário do nosso país.
Até
os “nuestros hermanos” ficaram rendidos a tamanha versatilidade e fluência
linguística!
Sem
dúvida alguma que após aquele momento de grandeloquência quando se referiu categoricamente
ao “minuto 88” – minutcho otchentcha e
otcho, em Portunhol – Rorgue Resús, “el maestro políglota”,
como é já conhecido no país vizinho, arrebatou por completo as audiências. Todo
o mundo intelectual e literário ibérico rejubilou com a façanha. Finalmente tinha
aparecido um “cérebro” a reinventar o Portunhol!
O
Portunhol é, no domínio da
linguística, uma mescla do português boçal
com o espanhol carroceiro, que não o
castelhano genuíno, o principal idioma de Espanha. No entanto, foi adoptado ao
longo dos tempos, especialmente como último recurso dos analfabetos, quando há que
dar respostas a questões que estão muito acima do que são as suas próprias e
reais capacidades e limites.
A
valorização deste idioma ficou bem patente na forma como o mestre poliglota
introduziu novas palavras no léxico portunholês.
Vocábulos como “Jamiz” ou “afécion” (Jamez e afición em castelhano),
ou ainda expressões como “me cambia de
banquilho”, “nem com o réfri (inglesismo
derivado de referee), nem com o árbitro” demonstraram que
não foi em vão que o maralhal intelectual do fôsso do lagartêdo, foi a Madrid - futebolísticamente podem ter
conhecido o sabor acre de uma derrota ao soar do gongo, mas no que diz respeito
a línguas, os espanhóis, muito particularmente os jornalistas, levaram uma
cabazada das antigas com este recurso do mestre poliglota ao Portunhol, um idioma esquecido mas que
naquela noite fez inveja a muito erudito e as delícias de muita gente na Ibéria.
O
lipoaspirado do fôsso é que tem
razão. Rorgue Resús, esse catedrático
do Portunhol, é um artista. Um
verdadeiro artista que até nem se coibiu de, já na conferência de imprensa
pós-jogo, soltar o melhor desabafo da noite:
“- Até já estou a falar
espanhol e tudo!...”
Hasta la vista! Olééééééé!
– digo eu.
P.S.
- a obra completa vai ser lançada dentro em breve. Para já poderão conhecer a
capa do livro, bem como o DVD que o acompanha e que reproduz na íntegra a lição
de Portunhol, dada pelo autor à CS espanhola
e portuguesa presentes no auditório do Santiago Bernabéu. O prefácio, como
sempre, nestas coisas, é do inenarrável Nuno
Lagartixa das saraivadas.
GRÃO VASCO