Um momento para toda a vida!
Costa Pereira, Coluna, Neto, Germano, José Augusto, Ângelo, Mário João, Santana, Cruz, Cavém, José Águas
Quarta-feira, 31 de Maio de 1961, Wankdorf Stadium, Berna, Suíça.
Recordo-me, como se fosse hoje, ainda muito pequeno, garoto de seis anos e meio, de um fim de tarde solarengo, fantástico e inesquecível!
Pela mão de meu Pai, atravessei o frondoso Rossio da minha bela cidade em passo acelerado. Dirigíamo-nos a um célebre e mítico café dos anos sessenta – o Café-Restaurante Rossio – para ver pela televisão, a primeira final do Benfica na Taça dos Clubes Campeões Europeus contra o Barcelona.
Nessa altura os grandes colossos do futebol na Europa eram o Barcelona e o Real Madrid!
Havia muito poucos televisores. Nesses tempos difíceis era um luxo.
O salão estava repleto de pessoas com os olhos postos num ecrã de um pequeno televisor, vibrando com um jogo extraordinário, transmitido a preto e branco, com algumas interrupções pelo meio e sempre com as interferências próprias de um directo de Berna, na Suíça, lá longe, numa altura em que a tecnologia da televisão estava a dar os primeiros passos.
Mesmo com aquela tenra idade, de que tenho tantas saudades, eu já sabia bem que estavam em campo os “papoilas saltitantes”, e mesmo a preto e branco, distingui inequìvocamente o vermelho das suas camisolas. O vermelho das camisolas dos jogadores do Benfica, do meu querido Clube!
Lembro-me de um amontoado de cabeças exultar com os nossos golos, 3 a 2 à super equipa do Barcelona e no fim uma completa loucura!
Não foi por acaso e nada me fez confusão!
Cantei vitória, levaram-me ao colo, gritando Benfica! Benfica! Benfica!
Vi bandeiras de Portugal e do Benfica no ar, um desfile extraordinário na Rua Formosa, pessoas cantando.
Uma alegria imensa, uma multidão imensa, uma Chama Imensa!!!
Fiquei tão contente, tão contente, que sendo do Benfica, fiquei mais Benfica, com orgulho e com vaidade!
Não foi por acaso!
Mesmo no tempo em que o Benfica foi durante alguns anos “o primeiro colosso europeu”, mesmo aí, experimentei a amargura da derrota. Com serenidade, com reflexão. Mas foi aí, também, que aprendi a ser e a gostar mais do Benfica. Com mais orgulho! Isso envaideceu-me, no bom sentido da palavra, claro!
Nada foi por acaso!
…
Nessa altura, a vaidade, era a vaidade de Ser do Benfica!
Não era a vaidade de hoje, a vaidade de criticar e achincalhar o Benfica e em sê-lo por conveniência!
Quais vaidades pessoais, quais críticas avulsas a presidentes e direcções, quais análises transcendentais a treinadores, quais vaias aos jogadores!
Não!
Eram sim, a garra, o empenho, a determinação, o espírito de sacrifício, a vontade indómita de vencer, exemplarmente gravados na edificação daquela obra belíssima e extraordinária que foi o primeiro Estádio da Luz, continuada na Conquista da Europa com as duas finais da Taça dos Campeões em Berna e logo a seguir em Amesterdão!
A força, o querer de toda a gente anónima do Benfica, que demonstrou a verdadeira dimensão do Homem!
E será que é atirando sistemàticamente pedras a quem labora para que o futuro seja melhor, para restaurar um palmarés inigualável, continuá-lo, e repor o Benfica no topo, que todos nós conseguiremos almejar as metas que desejamos?
Será que é com jornalistas e comentadores da estirpe que temos, que se dizem adeptos do clube e outros que ainda ganham à conta do Benfica, que zurzem constantemente no Clube, que ganharemos vantagem?
Será que é com individualidades que se dizem adeptas do Clube, e que têm a desfaçatez de o achincalhar, só para agradar aos seus amos e senhores?
Também é verdade que o Benfica tem uma dimensão tão grande, tão grande, que consegue albergar adeptos menores, confusos e mesquinhos como muitos dos que pululam hoje por todo o lado.
Mas a massa verdadeira, a massa anónima, está viva, presente!
…
E naquele final de tarde, quando meu Pai chegou a casa um pouco mais cedo e me disse:
- Veste-te e calça-te. Vens comigo!
Eu sabia que era algo muito importante.
E já a meio do caminho, com ambos concentrados e silenciosos, eu, tranquila e confiadamente perguntei:
- Meu Pai, para onde vamos?
- Já vais ver – respondeu-me ele muito compenetrado, olhando o horizonte, perguntando-me logo a seguir:
- De que clube queres ser, meu filho?
- Meu Pai, o meu Pai sabe muito bem. EU SOU DO BENFICA, aqui do lado do MEU CORAÇÃO! – disse eu, pousando suavemente a minha pequena mão direita sobre o lado esquerdo do meu peito.
Ao que o meu Pai, também serenamente, mas muito sério me respondeu:
- Meu filho, vais ver aquilo que nunca viste e que ficará para sempre gravado na tua memória. O Benfica vai ser Campeão Europeu, vais ver na televisão. E o Ângelo, o Coluna, o Águas e o Cavém vão encher-nos de orgulho!
SOU E SEREI INCONDICIONAL E ETERNAMENTE DO BENFICA!!!
Da esq. para a dir.
em cima: Mário João, Ângelo, Cruz, Neto, Germano e Costa Pereira
em 1º plano: José Augusto, Santana, José Águas, Coluna e Cavém
Obs.
Excerto revisto de um “post”, com o título “De que clube queres ser? Eu, sou do Benfica!”, publicado por mim, no blogue “O Antitripa” em 2ª feira, 29 de Setembro de 2008
GRÃO VASCO