31.8.11

Choupana acima, Choupana abaixo


 
“Toca a andar, isso, toca a andar!”
A palavra de ordem do engenheiro da fruta e das muitas touradas futeboleiras na ilha, soava, abafada pelo nevoeiro cerrado, encosta acima.
As ninas lá cirandavam numa fona, ávidas por Arturinho e seus compinchas para mais um daqueles furtivos mas bem pagos encontros.

- Artur! Artur! Onde estás meu bem? – clamava uma delas com sotaque brasileiro.
- Ó filha, olha que o Artur a esta hora já está lá em cima, no campo, a fazer outro tipo de aquecimento! – respondeu-lhe um campónio com um ar abrutalhado, que por ali passava a caminho de uma levada.
Ela, assustada com aquela silhueta aparecida do nada e irritada com a bojarda do homem, ajustando a calcinha que se lhe enfiava pelo rêgo do seu apelativo traseiro, atirou-lhe:
- Ouve lá, ó labrego, quem eu quero é o do apito, o do prriii, priii, não é o Moraes, o meu conterrâneo, é mesmo o outro, o da Trypalândia!
- Tira o cavalinho da chuva, andorinha, que nem um nem outro, desta vez só aqui está o “Je” para levares para o palheiro..e à “borleone”! Apito, também há! – ria-se o campónio dando de anca, empinando várias vezes a barriga e levantando ao mesmo tempo as badanas do seu pitoresco barrete madeirense que lhe tapavam as orelhas.
Fuck you, man! – respondeu-lhe ela naquele inglês mal amanhado de bordel insular.

Nesse momento, na Choupana, ouviu-se um estrondoso bruááááá.
Cardozo, o “Óscar”, tinha aparecido do meio do denso nevoeiro e com uma cabeçada fatal… já foste!
A fulana, ainda à procura do cliente e aturdida com a barulheira, desabafou:
- Estou lixada com um “F” dos grandes! A continuar assim, o engenheiro, aquele rafeiro com focinho de buldogue vai despedir-me do alterne!
O campónio, vendo o rebuçado escapar-se-lhe pela encosta abaixo, tapou novamente as orelhas e exclamou:
- Vá, suas putas, "toca a andar, isso, toca a andar", que hoje não é uma noite fácil, hoje é uma noite séria, uma noite à Benfica! 

GRÃO VASCO

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