A ‘Volta da Águia’ e o Mascarenhas
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Mascarenhas há muitos!
É como os chapéus.
Já o dizia Vasco Santana, na sua interpretação memorável no filme “A Canção de Lisboa”, no papel de Vasco Leitão, conhecido pelo Vasquinho da Anatomia.
Chapéus, há-os para todos os gostos. De todas as formas, feitios e côres.
Palermas ou não, Mascarenhas também. Do Porto, do Sporting, do Benfica, do Sp. de Braga ou mesmo do Gil Vicente.
Hoje é dia de excursão na escola do meu mais novo. Uma pequena-grande aventura para os petizes, naquilo que para eles significa umas horas de bom recreio, são convívio, “liberdade e independência”, com digressão pelo interior beirão e visita histórica a uma conhecida povoação celebrizada pela sua comunidade judaica, museu e respectiva sinagoga.
À partida, muita animação e excitação, com “papás” e “mamãs” muito zelosos, bem ao contrário do que fazem durante o tempo de aulas, quando mandam a empregada ou o “chauffeur” entregar a miudagem ao porteiro da escola. Mas adiante.
Esta introdução serve sobretudo para vos enquadrar nos momentos hilariantes que presenciei antes do início da viagem, protagonizados por um conhecido fanático do clube corrupto – o bitorioso dragõun…ee, o inefábel Dudu Mascarenhas!
Um sketch que me fez recordar o episódio ridículo ocorrido num jardim-de-infância da Ericeira entre um “zeloso” pai de uma catraínha e as suas professoras.
O autocarro que iria transportar as crianças tinha chegado à escola.
Grande, alto, moderno, de cor cinza metalizado-claro e com o logótipo da empresa nas partes laterais e na sua rectaguarda – umas asas bem grandes e largas com o nome do patrão e filhos, bem visível no meio delas. E para estimular ainda mais a imaginação do espectador, por cima das asas, em abaulado, o nome da empresa – “Volta da Águia”. Para quem, instantâneamente olhasse para o veículo e para o logótipo, poderia muito bem associá-los ao Glorioso e ao Vermelhão, em versão cinza metalizada. Uma simples coincidência, pois segundo constatei, a proprietária até é adepta leonina.
Em amena cavaqueira com outros pais presentes, o autocarro foi tema para algumas graças e boa disposição.
Qual não foi o nosso espanto, quando vimos o Mascarenhas irromper do meio daquela pequena multidão, dirigindo-se à professora responsável, dizendo-lhe que perante aquele cenário, não saberia se a sua filha iria segura, chegando mesmo a dizer que era preferível ela não seguir na excursão e naquele autocarro.
A professora, na sua boa-fé, disse-lhe que já tinham feito muitas viagens de estudo e que todos os alunos viam este dia com entusiasmo e com muita vontade de participarem neste convívio.
- “Sabe professora, o que eu estou a ber é um atentado à liberdade de escolha, um desrespeito pela diferença e pela indibidualidade, com a escola a praticar proselitismo puro” – atirou à bruta o Mascarenhas.
A professora, atónita, ainda referiu que a visita que iriam fazer era “uma lição de história” para a miudagem e que eles tanto visitariam uma sinagoga, como uma mesquita ou uma igreja cristã. Não era nenhuma aula de religião e o credo de cada um, seria como sempre foi e será, respeitado.
- “Olhe, professora, eu não quero saber disso para nada. A minha religiõun…ee é outra. O que eu lhe digo é que aquelas asas e o nome no autocarro deixam muito a desejar. Até parece que os “mouros bermelhos” andam aqui metidos e se não sabe, fica a saber, que eu benho do Freixo e sou adepto do dragõun…eee!
Nesse momento, a professora, esclarecida, virou-lhe as costas e abalou para o autocarro.
Mascarenhas, abespinhado, ainda entrou no autocarro. Nesse momento deu de caras com o motorista. Espantado, soltou uma exclamação de alívio. O condutor era o Abel, seu companheiro de muitas lutas e aventuras futebolísticas do clube que tantas vezes tinham acompanhado.
- “Ah! Assim “tá” bem! Os assentos são azuis e o condutor é um dragõun…ee conbicto e inbicto. Assim, sim! Assim já está melhor!” – rejubilava o Mascarenhas.
Entretanto, perto da porta dianteira do autocarro aglomerava-se a garotada. Um pequeno grupo vinha equipado com o Manto Sagrado e alguns outros de cachecol verde da torcida leonina.
O meu catraio, para além do Manto Sagrado e da mochila com o farnel, levava um pequeno saco de guloseimas e já fazia a primeira distribuição de chicletes e gomas pelos seus e suas colegas. Por fim, tinha reservado para a Carolina, sua amiga, um chupa-chupa com o símbolo do grémio do seu pai, o disparatado Mascarenhas.
Na sua inocência, sabendo que ela já era uma dragona iniciática, brincando, entregou-lho e disse-lhe:
- “Toma, é para ti. É para te ires habituando…” – ao mesmo tempo que rodava o chupa-chupa, mostrando-lhe o símbolo.
O pai, agressivo e “indignado” pela observação, mas sem saber quem eu era, levando aquilo a peito, como se fosse conversa de adultos, inquiriu o catraio de uma forma ríspida e agressiva, perguntando-lhe:
- “Ouve lá, ó bermelho da Mouraria, estás a falar do clube ou do chupa-chupa?
Aí já não foi o pequenote que falou. Aproximei-me do Mascarenhas, puxei-lhe suavemente a manga do casaco e disse-lhe:
“De ambos, meu caro, de ambos!”.
Nesse momento o toque “Ser Benfiquista” soou no meu telemóvel.
Dei um beijo de “boa viagem” ao meu filho, acenei-lhe mais uma vez e deixei aquele cêpo do Freixo a falar sòzinho e a olhar pasmado para as asas do autocarro e para o chupa-chupa.
Desta vez não houve comunicados da agremiação corrupta.
Boa viagem!
GRÃO VASCO