Em 25 de Agosto de 2008, quando nem sequer
imaginava que um dia surgiria o “Pinceladas Gloriosas”, publiquei num blogue em
que por convite fui um dos colaboradores durante algum tempo, um “sketch” sobre
algumas criaturas que já andavam na crista da onda.
O mais incrível, é que elas continuam “a brilhar”
com pequenas alterações no elenco.
Guillermo Cagaia foi substituído por Mandril Serrote e o papel de Dias Palito
passou para Eduardo Maus-Fígados. O
programa também apareceu com outro nome – esticou-se um pouco mais o “Dia
Anterior” com um “prolongamento” noutra estação.
O título da estória é o mesmo e eu não
resisti a contá-la novamente aqui.
Eu por cima,
tu por baixo
Com Nandú Ceará & Judy Ransousa,
Guillermo Cagaia & Zeca Dias Palito
O programa “O Dia Anterior” tinha terminado
com mais uma participação dos “paineleiros” mais conhecidos da nossa praça –
Guillermo Cagaia, Nandú Ceará e Zeca Dias Palito.
Como sempre, Nandú foi novamente derrotado
por 2 a 1.
Apressadamente, arrumava as suas cábulas, com aquele sorriso de “galináceo
cacarejante” e com as mãozinhas a “dar a dar”, convencido de que tinha feito
uma obra extraordinária em prol do seu clube.
À saída dos estúdios, Zeca Dias Palito e
Guillermo Cagaia, mais conhecido pelo “Vaselineiro da Cedofeita”, lá vinham,
mais uma vez todos animados, de braço dado, com o Palito a dizer para o outro:
- Ó
Cagaia, o “gajo” não tem emenda. Está farto de levar no “toutiço” e ainda se
ri. É cada sessão de gozo, que os apaniguados do clube dele ainda devem estar a
perguntar como é que é possível fazer-se aquela triste figurinha na TV.
- Tomara
que no “Conselho dos Justiceiros” tivesse sido assim… – desabafou Cagaia,
franzindo as sobrancelhas. E continuou, abanando a cabeça em sinal de derrota e
frustração:
-
Depois de eu me ter esforçado tanto para aplicar a minha táctica mortífera e
subterrânea, a “analfabeta” da Trinidad meteu a boca no trombone antes do tempo
e foi o que se viu! O Caranguejola e Cia. não gostaram da “marosca” e viraram
as agulhas para o outro lado, deixando o Tógonça Mascambilha e o Bosta Andrade
pendurados, de mãos a abanar, mesmo com o indisposto Mentes Silva a servir de “rolha”,
esse “sempre em pé”!
Dias Palito, com aquele ar rasca, meio a
sério, meio a gozar, consolava-o:
- Olha,
era resultado que nem me aquecia nem me arrefecia. Tanto me fazia. Mas que foi
realmente uma grande fatalidade para esses teus dois amigos, especialmente para
o Tógonça, foi!...Mas deixa lá, porque qualquer dia, ele também te fazia a
folha.
Guillermo Cagaia estava sério e reforçando o
que tinha dito, atirou:
- Fratelli! Capisci! Fratelli, Dias Palito!
- Ó
Cagaia, deixa-te lá disso das “societàs”, porque isso é com os teus amigos de
lá de cima. Aqui, só está combinada esta aliança pontual, e se te portas mal,
já sabes, estás habilitado a levar logo, também, umas traulitadas da minha
parte. Portanto juízinho! E mais, põe-te fino porque se não faço-te o que
costumo fazer àqueles “vermelhos danados”, estrefego-te! – dizia Dias Palito
arreganhando a barba.
- “Tá
bem, tá bem caramba”! Escusas de estar já a “escamar-te todo”! Realmente é
verdade, que ao menos, aqui contigo, o resultado combinado não falha. Não há cá
mas, nem meio mas. Tumba! Damos-lhe logo em cima! Ele não é da terra do
Viriato? Então que lhe vá pedir ajuda. Pode ser que se safe! – rematou o Cagaia,
aparentemente vibrando com a proeza.
Despediram-se até à próxima semana com um
aperto de mão à chefes de estado e com pose para a fotografia dos repórteres
dos jornais “O Nojo” e “Reco”. Os de “A Borla” não apareceram; há que conter
despesas pois as receitas com as vendas desceram. Uma opção é colocar o jornal
nas bancas, de borla. A outra, vendê-lo à sociedade que detém “O Nojo”, pois é
um jornal em que, como este, o número de andrades por metro quadrado é muito
elevado e por isso torna-o muito apetitoso.
Bem, mas adiante, que se faz tarde.
Ceará não esperou por eles. Entrou no seu
automóvel, ligou a ignição e pôs-se a andar. Na viagem para Cintra, sua terra
por adopção, pensativo, reflectia sobre coisas da sua vida e dizia para os seus
botões:
-
Realmente as coisas não me têm corrido bem. Mas não posso dar parte de fraco.
Tenho de permanecer “firme e hirto”, pois não há nada melhor do aqueles noventa
minutinhos por semana. Tão ricos, tão riquinhos! Já pareço um jogador de “top”
com prémios de jogo à maneira! A chatice toda é que aceito tantos cargos que
depois é “um deus nos acuda”! Tive mesmo de me demitir de director do jornal “O
Maior”, pois nem tempo tinha para escrever os editoriais e ir à redacção. Os
leitores do jornal, perguntavam muitas vezes e com razão, se eu andava sempre a
passear com a Judy pela “estranja”. Perguntavam mesmo se aquilo era só para o
“penacho”. Bem, mas se aquilo nem sequer dava para o “petróleo”, o que é que
queriam?
Estava quase a chegar a casa, já passava bem
da meia-noite.
Preparava-se para mais uma “maratona” com a
sua Judy, que no “apogeu dos quarenta” continuava com aquela performance dos seus tempos de debutante
no jornalismo de televisão. E que performance!
Ela esperava-o ainda a pé, ocupada na
elaboração do “questionário veneno” para a entrevista daí a dois dias com o
“Barão Vermelho”.
Estava cansada de “puxar” pela sua cabecinha,
pois o seu objectivo era poder desancar nessa famosa figura pública que a
atormentava nos seus sonhos de “vivência fanàticamente andrade”. Vivência da
qual não tinha pejo nenhum em exibir alguns flashs,
à descarada, desde que se tratassem de adversários ou inimigos de Giorgio di
Bufa.
Chegou a hora de dormir, mas a noite ainda
era menina. Faltava o doping
afrodisíaco para retemperar forças para os embates do dia seguinte e das
grandes entrevistas.
Assim, já meio deitado na cama, sem óculos,
repousando sobre as almofadas, com as mãos cruzadas atrás na nuca, enrolando os
polegares um no outro, para trás e para a frente e olhando para o vazio do
tecto enquanto a sua querida acabava de limar mais uma vez as unhas, Nandú
perguntava:
- Ó Ju,
que tal a minha prestação de hoje? Gostaste?
- Sim,
gostei. Estiveste como sempre, nem bem, nem mal. Riste-te, mexeste bem as mãos,
divagaste como de costume e pronto, foi o que eu vi e ouvi – disse ela
desinteressadamente.
- Mas sabes
qual é a minha sensação? – perguntou ele, apreensivo.
- Sensação?
Ôh…lálá, querido, diz lá à tua Juju, diz… – respondeu ela com uma voz baixinha
e doce, chegando-se de mansinho.
- É que
voltei a perder por 2 a
1. O Dias Palito, aquele diabo, desempata sempre a favor do Cagaia – respondia Nandú,
empinado.
E continuando, atirava, “afiando a dentuça”
com um sorrizinho malandro:
- Mas
uma coisa te digo já, ó Ju, hoje não quero perder mais nenhuma vez, ok,
querida?
Ela, com o seu sex-appeal tentador, sorridente e pujante como sempre, emitiu um
leve gemido, atirou com o estojo das unhas ao ar, deu duas voltas na cama e com
um salto felino encaixou-se de tal forma nele, que parecia preparar-se para
mais uma corrida de fundo no hipódromo de Ascot.
Ele, já prevendo o “furacão” que se
avizinhava, começou a rir-se e quase “cacarejando”, disse:
- Ó..., ó... Ju, não, não quero perder aquele tacho! E
mais, filha, olha que eu sou mesmo muito macho!
E Judy, já em “pulgas” com o
“pré-aquecimento” disse-lhe:
- Ai é,
Nandú querido? Tá bem tá!…Mas já sabes o que eu acho!…Eu por cima, tu por
baixo!
A luz, com tudo a rodar em “alta voltagem”
apagou-se, com o par “engalfinhado” até à exaustão!
Por fim, Nandú Ceará adormeceu a sonhar que
era um pássaro…
…talvez uma águia depenada num qualquer restautante de luxo, sei lá…
GRÃO VASCO