O futebol tem coisas do
arco-da-velha.
Como é que poderemos
explicar que o Benfica vá ao norte, faça dois jogos com o mesmo árbitro e perca
exactamente da mesma forma e pelo mesmo score,
esses mesmos dois jogos?
Se rebobinarmos o filme,
chegaremos à conclusão de que houve muitos pontos em comum entre o desafio em
Braga, na Pedreira contra os brácaros e agora o de Vila do Conde contra o Rio
Ave - o apitadeiro, as exibições de
ambas as equipas e por fim a evolução dos próprios resultados e o seus desfechos
finais.
O Benfica perdeu por 2-1
depois de ter ficado à frente do marcador muito cedo. Assim sucedeu em Braga
com igual reviravolta na segunda parte.
Em post anterior já tinha aqui deixado as minhas reservas quanto a
este jogo e quanto à nomeação infeliz do hábil madeirense apitadeiro anti-Benfiquista
e tendenciosamente alagartado, que já
demonstrou a sua “perspicácia” em gerir estes jogos fazendo com que os
jogadores do Benfica se sintam receosos e demonstrem alguma desorientação,
colocando-se à mercê do adversário. Pelo seu currículo recente em jogos do
Benfica, era certo e sabido que não iríamos ter vida fácil. Quanto às equipas e
ao jogo pròpriamente dito, mesmo com Salvio a marcar muito cedo, a
tranquilidade foi coisa que nunca esteve com a equipa. O Rio Ave, estruturado, bombeou
constantemente bolas para as costas da nossa defesa, tentando explorar a sua
menor rapidez, e simultaneamente tirar partido da velocidade de alguns dos seus jogadores,
jogou nos limites, bastando para isso observar a envergadura física dos seus
atacantes e a forma como dificultaram em muito as nossas tarefas defensivas e
fez mais um jogo contra o Benfica como se não houvesse amanhã. Mas o exagero
foi tal que até se compreende melhor agora como é que dois jogadores do Rio Ave
com essa grande envergadura e esse empenho desmedido se conseguiram lesionar sòzinhos.
Perante este cenário, pouco abonatório para um jogo que o Benfica tinha
necessidade absoluta de ganhar, a situação tornou-se mesmo muito complicada,
não obstante o Benfica ter ficado cedo em vantagem. Do lado do Benfica
observaram-se situações que custam muito a compreender, especialmente no
aspecto táctico e no campo das escolhas individuais. Só vou referir três - a
colocação de Talisca, o adiamento de decisões em relação a substituições
imperiosas, sobretudo a meio-campo e Jonathan Rodriguez que foi despachado para
as bancadas depois de ter integrado a convocatória para o jogo.
Porque a mim próprio
impús silêncio quanto a tudo o que dissesse respeito a JJ, não farei mais
nenhum comentário àquilo que mais me perturbou durante o jogo em relação à
nossa equipa (e que não foi pouco) e que deixou alguns adeptos nossos à beira
de um ataque de nervos.
Mas curiosamente, ainda
faltava a “outra parte do jogo” que iria iniciar-se logo a seguir na ilha da
Madeira, e por consequência, aguardei com serenidade o desfecho de toda a
história que ocorreu ontem em termos de disputa do campeonato…
Creio que mais uma vez,
na noite de ontem, houve coincidências a mais, mas também mais uma vez, escreveu-se
direito por linhas tortas. Só Lucas João é que escreveu mesmo torto por linhas
direitas. Mas do mal, o menos. A situação em relação ao segundo classificado não
se alterou minimamente, pelo menos até ao próximo jogo na Luz.
Mas, não obstante todas
estas incidências, jantei tranquilamente após essa derrota amarga e sabendo que
da Choupana não chegavam boas notícias...
Nestas situações não é
fácil para ninguém descontrair-se e abstrair-se do que se vai passando, mas
mesmo assim optei por uma incursão ao Canal Odisseia e por lá me entretive uns
largos minutos. No entanto acabei por não resistir, e após alguma hesitação, lá
carreguei no botão da SIC notícias, onde vejo os dois habituais marretas –
Borges e Cristóvão – com um semblante esquisito, estranho. Qual não é o meu
espanto, quando no rodapé vejo 1-1 na Choupana.
- “Compreendi-te!” –
lembrando-me desta expressão engraçada de Vasco Santana no filme “A Canção de
Lisboa”.
É verdade. As coisas não
são como começam, mas sim como acabam!
E assim, acabámos por
ver dois sentimentos antagónicos e que ajudam a entender alguns fenómenos recentes.
A serenidade de quem lidera mesmo após um desaire previsível, e a ansiedade desesperante
do basco do Freixo tentando justificar-se perante um fiasco improvável na
Madeira. E digo fiasco, porque pior que o resultado do Benfica foi a
insuficiência do grémio da fruta
corrupção & putêdo contra um Nacional privado de jogadores chave em
jogadas de bastidores.
Arrumo a TV e abro o
computador. Percorro a auto-flagelada blogosfera dita Benfiquista. Uma lástima.
Parecia que o Estádio da Luz tinha desabado perante um terramoto de grau dez e que
o Benfica tinha desaparecido do mapa. Uma vergonha para os Benfiquistas. De um
momento para o outro lá vêm os suicidários em carreirinha, tal qual aquela
história dos ratos hipnotizados por uma flauta mágica a caminho do precipício… Uma
chuva de críticas descabeladas, destrambelhadas. Tudo a quente, tudo à doida.
Tudo indignado (com muitíssimo pouca ou nenhuma razão), tudo a dizer “bem feito”
pois jogaram assim, cozido, frito e assado. Deixa-me triste tanta precipitação,
tanto despautério. Vi o jogo com um Benfiquista Autêntico, com metade da minha
idade que no final, zangado, expressava o seu desagrado, quase em pânico. Tinha-o
avisado antecipadamente, que conforme estava o cenário, mesmo com o Benfica em
vantagem, era previsível admitir-se um volte-face. Aconselhei-o a ter alguma
frieza nos momentos em que ela é mais necessária. Ontem, após o jogo, era um
momento em que era mandatório tê-la.
Disse-lhe para aguardar com calma o desfecho de toda a jornada e que o Benfica
continuaria no topo, mesmo independentemente do resultado da Madeira. Acalmou e
enviou-me posteriormente um SMS estupefacto com a reacção dos corruptos na ilha,
dizendo que era inacreditável que depois do nosso desaire os “outros” não
tenham conseguido melhor do que um empate. O futebol tem destas coisas e na
realidade a sua imprevisibilidade mexe com tudo.
Só espero que aqueles
bipolares que vão num ápice da euforia ao desespero ou à depressão profunda e
os que nas redes sociais e blogues tanto gritam convencidos que o “34 está no
papo” ou “rumo ao 34º”, tenham aprendido a lição. Mais do que qualquer jogador
do Benfica ou elemento da sua equipa técnica incluindo obviamente JJ.
Mas já depois de ter
lido também tudo e mais alguma coisa, chego a uma referência fria e objectiva –
“temos seis jogos em Lisboa até ao fim do campeonato. Se os ganharmos, seremos
Bi Campeões”, blogue RED PASS.
Ora bem. Está tudo dito!
Sinceramente, fiquei
mais descansado. Ainda há Benfiquistas lúcidos em momentos de desalento.
PS
Com o Rio Ave a jogar
com este empenho e a exibir-se a este nível, como o fez contra o Benfica, é sem
dúvida, para mim, o candidato principal a vencer a Taça de Portugal.
GRÃO VASCO