Nunca me impressionou, nem nunca senti por ele aquele afecto clubístico, mesmo quando ganhou a medalha de ouro em Pequim, na final do triplo-salto. Algumas vezes me questionei sobre o seu entusiasmo, sobre a sua alma. Vermelha é que nunca foi. No entanto, o seu espaço, a sua progressão, as suas vitórias, alegrias e tristezas, viveu-as dentro do Benfica, sempre visto e tratado como um filho primogénito da casa. Renegou-a, tal como o filho pródigo, mas irreversivelmente sem retorno. Mostrou à saciedade a massa de que é feito. O dinheiro, o tal vil metal, falou mais alto e comprou-o. Uns meros vinténs, comparativamente com a glória perene e suprema de ser um ícone do Sport Lisboa e Benfica e poder ter uma recompensa de ouro durante toda a sua vida. Assim, será mais um dos vendidos que irá ficar na poeira do esquecimento do passado. Mas o mais curioso é que ele ainda não se apercebeu da forma como foi usado.
Não
tivesse eu visionado aquelas imagens e não teria acreditado!
A
cena, surreal, aconteceu – primeiro umas letras garrafais, com o nome do
protagonista, sinónimas de complexos e traumas de um grémio de frustrados e resultantes dos seus falhanços
sucessivos, mas que não dão títulos. Depois, dois patetas patologicamente obsessivo-compulsivos, com
responsabilidades no grémio do lagartêdo
a correrem, tontos, atrás daquele que foi campeão mundial, europeu e olímpico
pelo Benfica!
Como
a inveja ao Benfica provoca tanta ridicularia!
É
certo e sabido de há muito – desde o tempo do caso “Nuno Assis” que me fui
apercebendo – que um lagarto escondido com o rabo de fora, com a patente de
capitão de mar e guerra, se tem prestado a estas coisas tão caricatas em tudo
semelhantes ao seu encapotado anti-Benfiquismo.
Mas
acreditem ou não, gostei de vê-lo, a dar aquela volta “olímpica”, ilusoriamente
triunfal, ao fôsso do lagartêdo.
Lembrou-me um daqueles miúdos pelintras do antigamente, de ranho no nariz, perseguindo
ruidosamente o urso e o seu tratador que à volta do coreto na praça do
município anunciavam perante o espanto de uma multidão curiosa, a chegada do
circo à cidade e o respectivo espectáculo que se iria realizar às nove da noite,
grátis às damas, ou até, assemelhando-se ao rapazola mais velho de uma pandilha
sem eira nem beira que se arrastava atrás do gigante de Moçambique - ao tempo, o homem mais alto do mundo - que para
ganhar umas míseras migalhas, uns míseros tostões, propagandeava pela rua
Direita a cena nocturna numa tenda suja e escura na Feira de S. Mateus, onde
contracenava, num pequeno sketch de
cordel, com o homem mais pequeno do mundo (56 cm) pegando-lhe ao colo desde os
seus 2 metros e sessenta e cinco de altura. Acreditem, que ao ver aquele triste
espectáculo daqueles trastes no fôsso,
recordei-me bem dessas cenas deprimentes de antanho.
Sim,
porque quanto ao tratador do urso, que neste caso também ia atrás, ele próprio
fez questão de se exibir, só faltando a coleira e a trela para ostentar o tão
propalado troféu de caça.
A
multidão, cega, numa autêntica paranóia colectiva, ululante, rejubilou, para
gáudio do tratador e do seu acólito, que pelos cargos que em tempos ocupou,
deveria ter tido um comedimento e uma postura adequados. Mas não. Mais parecia
o miúdo maltrapilho, todo contente por ter ganho à bilharda, a taça de lata do seu bairro, atrás do macaco ou do urso
do seu querido e desejado circo. E tudo aquilo foi mesmo um verdadeiro
espectáculo de saltimbancos do fôsso!
Quando
se der conta, quando cair em si e entender que foi um joguete para ser usado
como um mero objecto de circunstância, quando tiver a noção exacta do acto
infame e precipitado que cometeu ao ser manipulado e instrumentalizado para
dizer aquilo que disse (e continua a dizer) e para ter as atitudes que teve
quando chegou àquele deprimente cenário
circense do fôsso, provavelmente aquele que foi um grande campeão, um
campeão à Benfica, irá marcar passagem para o lugar onde nasceu – Dakar –
voltando de novo às suas origens, porventura aquelas que lhe dizem, ou dirão em
termos afectivos alguma coisa. Aí, possivelmente, nem lentilhas haverá, um prato
pelo qual se vendeu.
Por
ora, caiu do Olimpo e esparralhou-se com estrondo no fôsso das desilusões. Quis ser a partir de agora, aquilo a que o
Benfica sempre o poupou – um troféu de caça.
Que
o seja, porque por mim, já dei para esse peditório!
Nota:
Os desabafos sobre as “misérias olímpicas” do lagartêdo
GRÃO VASCO