Taborda
Xistra acabava de apitar para o final do encontro. A morcanzoada exultava, insultava e espumava de ódio. Afinal a batota
continuava a resultar em pleno – a vermelhidão mourisca já estava expulsa, espoliada
e despojada. Sérgio Marceneiro, o
condutor da carroça onde se empoleirava a corja
corrupta usurpadora da riqueza e vitória alheias, olhava feliz para o clínico
da equipa e segredava-lhe:
-
Purga, esta já está no papo! Já podes
encomendar as faixas ao Proença e mandar gravar as medalhas à Sóninha!
Olha
lá ó mister – respondia o clínico – já
reparaste que ainda te falta comer os brácaros
ou a lagartada, pá? E nem sei se dá
para o Tiquinho jogar no sábado. É que eu tenho-lhe carregado no pitrol e não bá o diabo tecê-las…
-
Ó Purga deixa-te dessas merdas, purga
mas é discretamente o gajo mas não lhe provoques diarreia, senão lá tem que vir
o comunicado a dizer que ele se sentiu indisposto… mas mesmo estando apto não
irei metê-lo de início. Só o Marega lá na frente rebenta com eles, vai dar-lhes
água pela barba. Não te apoquentes… - rematava Sérgio esfusiante, metendo a mão
esquerda ao bolso para coçar o animal e piscando o olho ao Taborda.
E
imparável, continuava:
-
E diz lá àquela pintelheira toda - nem de propósito - que limpe a vitrine onde tem
as fotos das alternadeiras das arcas e das putas do Araújo, pois garanto-te que
esta taça já não escapa, já lá mora, no Freixo! Está tudo por nós, pá! Até parece
que vamos ganhar a Taça dos Campeões Europeus! É a CS, é o VAR, os árbitros, a
APAF, o sindicato dos jornalistas da espinha dobrada, “O Jogo”, o Fui Moreira, os
símios da Ribeira, o Rui Ácaro mais conhecido pela “madre Teresa de Budapeste”,
o Chico Pirrolhas da “Barba Azeda”, o Aníbal “buldogue” dos violadores e todo
aquele séquito de safardanas ligado ao Apito Dourado. O que tínhamos de fazer
está feito – ganhar ao Benfica nem que fosse à marretada! Agora é limpar o cu
aos probetanas do Varandas!
O
mastim do Gonçalves desviado da algazarra e entre um par de sonoros e
comemorativos rasgadores, bem medidos, encostava o seu telemóvel ao ouvido
tentando saber por alguma toupeira do Ministério Público quem seria o VAR e o
árbitro para a final do próximo sábado. Nem lhe importava saber quem seria o
adversário. Depois da deplorável actuação do VAR(d)íssimo e da manhosice saloia
do Taborda, fazendo lembrar, para gáudio da entourage
corrupta, os Martins dos Santos e os Calheiros de outros tempos, o que
interessava era realmente saber quem eram os novos substitutos dos Jacintos Paixões e Augustos Duartes desta vida.
-
Umas calheiradas à brasileira para
sábado é que binham mesmo a calhar –
balbuciava ele com um trocadilho bem humorado por entre aqueles dentes caninos rangedores,
acrescentando:
-
Bamos lá ber se promobemos nobamente o Isidoro. Pelo menos já anda
outra bez no meio do apito como obserbador. O gajo lá por Biseu é mais conhecido que o Camões pelos piores motibos, mas temos de desenterrar mais destas múmias e tirar os
esqueletos corruptos do armário do Apito Dourado e colocar estas peças todas a
bulir para a máquina ficar bem completa e oleada…
Passado
mais um dia, o staff arruaceiro dos
morcões azuis e brancos ficou a conhecer o adversário da final. Era a lagartada, um bando de maltrapilhos e
pindéricos, mas sequioso de taças, composto por uma manta de retalhos e logo
alvo da habitual ironia provinciana daquela gentalha.
-
Eles que se cuidem porque ainda caiem das “barandas” abaixo! – arrotava o
Sérgio Marceneiro e sus muchachos em
cima da carroça, exibindo dois bonecos fantoches, em que um fazia de DasBosta e
outro de Jefferson peideiro.
-
Ó Sérgio, já sei quem é o árbitro e bê
lá tu, bamos ter dois (V)Bar’s! Isto
não estaba no programa e se não nos
pomos a pau iremos bêr a taça a boar… é como bir aqui a Braga e bê-la
também por um canudo! – alertava já, a ranger novamente a dentuça, o Gonçalves
pigmeu.
O
Sérgio e o Purga lá ficaram com a pulga atrás da orelha, perguntando um ao
outro porque é que era preciso haver dois VAR’s e logo um deles conotado com a lagartada…
Hummmm…!
Para além do cheiro a papel rasgado do pigmeu, poderia haver algo que não
pudesse correr tão bem como no jogo anterior.
Desta
vez não seriam necessários atrasos de dez minutos nem esconder o galhardete. A morcanzoada iria mostrar à plateia
presente e à audiência televisiva que também há verdadeiros gentlemen, fair-play e desportivismo na Inbicta,
e que o que importaria sempre primeiro, seria aviar os infiéis vermelhos da
Moirama para depois toda a trupe corrupta ir rezar umas orações ao Sameiro, ao
lado do paputas das bufas e das ironias
e passearem no Bom Jesus com direito a piquenique em que o prato principal
seria “churrasco de lagartos”.
As
coisas no sábado até começaram a correr de feição. A dez minutos do término da
considerada actualmente “a grande final”, o frango do Renan era mais que
suficiente. Tudo certinho, sem calafrios, com um adversário que não passava do
seu meio-campo, mais parecendo uma agradável dama de companhia. Mas eis que
surge o início do golpe de teatro. Descuidadamente, mesmo ao soar do gongo, o
Oliver, pensando que passaria incólume tal qual quando cometeu falta no jogo
anterior sobre Gabriel e que deu origem ao primeiro golo ilegal com que
venceram o Satã Vermelho da Mouraria, arreou inadvertidamente um pontapé em
cheio no lagarto mais próximo, dentro da sua grande área.
Penalty! - gritaram os Jeffersons e os DasBostas – é penalty, é penalty!
Pinheiro,
outro árbitro-artista escolhido a dedo para decorar a taça que pressupostamente
já estava no papo, a dois metros da ocorrência e a olhar para o lance, como
sempre assobiou para o ar não conseguindo ver o que todo o mundo já tinha visto
e revisto.
Acudam!
– gritavam os lagartos em pêso – vá
ao VAR, crlh! Vá ao VAR!
Pinheiro
não teve alternativa. Ainda com o apito entupido e a suspirar por não sei bem o
quê, pediu a ajuda dos dois VAR’s. A evidência era tal, que irremediavelmente
teria de ser penalty contra a morcanzoada, sim senhor, sem sombra de
dúvida!
Querem
ber, querem ber, que lá foi o “esquema” todo por água abaixo… - arengava o
Gonçalves para os seus botões.
E
foi mesmo. O grandalhão piscineiro do pijama verde às riscas acabou por enfiar
a bola nas redes, evitando a derrota no pintelhésimo segundo da contenda e
agora no desempate nos penaltys não
haveria ponta por onde pegar ao árbitro Pinheiro.
E
assim, ao fim da série de cinco penalidades para cada equipa aquilo que estava
no papo, transformou-se num sapo vivo gigante difícil de engolir. A digestão
foi tão difícil que o fair-play foi lançado
directamente da ponte de D. Luís abaixo, indo parar ao Calor da Noite e à
Taverna do Infante! Nem as medalhas se salvaram!
Uma
atirada para a bancada, com Sérgio Marceneiro tentando imitar o discóbolo de
Miron da Antiguidade Clássica, mas mostrando a todo o mundo que os discóbolos
ressaibiados da Inbicta não sabem
perder ao contrário da beleza artística da escultura grega. A outra, atirada
violenta e desvairadamente, já na bancada, contra um adepto adversário como
arma de arremesso, por um subordinado do Maceneiro. Bons exemplos para os
filhos de ambos. Foi um fartote de azedume. Depois de todos aqueles
salamaleques antes do desafio, assistiu-se ao triste espectáculo de mau perder
da escumalha azul e bronca que campeia impunemente de norte a sul, nesta
terrinha de brandos costumes. Uma selvajaria verbal e comportamental
inacreditável. Absolutamente miserável!
Chico Pirrolhas da
Barba Azeda,
a eminência comunicacional da corja corrupta, acometido de azia severa e
diarreia mental aguda perdeu o pio e mandou às malvas o seu facebook por um dia – faltava-lhe nessa
noite o Pinta Roda Pés do Saraiva sem
Pescoço como muleta para desancar mais uma vez na Moirama Vermelha.
Por
último, ainda conseguimos ouvir a habitual ironia do “rei” do Calor da Noite e
afins:
-
Desta, já nos livrámos!...Outra vez! Isto está mesmo a tornar-se insuportável!
GRÃO VASCO