Já
passavam das cinco dessa tarde amena e soalheira entrecortada de vez em quando
por uma leve brisa oceânica, bem convidativa a dois dedos de conversa e a um
brinde ao “dolce far niente”. O
rossio da minha santa terrinha fervilhava de animação, não só pela gulosa
cobiça dos habituais marialvas que quase por magia dos seus olhares
transformavam os passos dengosos de belas donzelas em passagem de modelos de
ocasião, mas também pelas calorosas discussões futeboleiras com que aqui e ali, reformados, desempregados, “paraquedistas”, teóricos de bancada,
curiosos e pascácios se iam digladiando verbalmente com ironias e invectivas
intermináveis e truculentas.
A
esplanada do Café Piolho da Beira, um espaço preferencial de lagartos brunistas, morcões azuis broncoanalfabetos e benfiqueiros do bota-abaixo e de meia-tigela, situado num dos
extremos da praça, distando alguns metros da Casa do Glorioso, abarrotava.
Entre fanfarrões, bisbilhoteiros, invejosos, frustrados, tarados e malandros de
urinol, lá estava, numa mesa mais recuada, um trio de presumidos e presunçosos
adeptos do Glorioso envolto numa verdadeira cimeira conspirativa.
Gomes da Selva, Biriato Farrapilha e Pig
Shadows segredavam estratégias, entremeadas por lamentos e desabafos bem
audíveis nas tertúlias vizinhas…
-
As coisas estão pretas para o nosso lado,
companheiros! – desabafava Gomes da
Selva. E acrescentava:
-
Já não bastava o 37 para me atazanar a
mona, ainda chupei neste defeso com mais 126 M€ no bucho. Estou farto de levar
tanta “ravianga” daquele reles orelhudo que me rejeitou para seu número dois.
Já nem sei o que hei-de dizer e escrever no teu chafurdo geracional, ó Pig
Shadows…
-
Ó Gomes, tenha lá calma, porque eu não me
vou calar. O que eu quero, como já lhe manifestei, é arranjar um tacho no clube,
nem que seja faxineiro de serviço à retrete do orelhudo. Já que o hacker teve
acesso a todos aqueles segredos, eu também vou tentar esmiuçar os próximos
desígnios do staff do orelhudo. – arengava o Pig Shadows com um esgar de mabeco ressaibiado.
Neste
momento, Biriato Farrapilha não
resistiu, e bem ao seu estilo calhandreiro de sacristão de igreja, sugeriu:
- Ó dr., se é por causa
das audiências fique descansado. Eu e mais uns quantos trogloditas publicaremos
os seus posts também. Por mim, que sou especialista em copys/pastes dar-lhe-ei
corda suficiente para que a sua candidatura a presidente do Glorioso tenha
pernas para andar…
- Ao menos, se um
“Jorge Andrade” qualquer tivesse dado um valente pisão no puto no final da
época transacta, isso é que teria sido uma bela jogada táctica… seis meses no
estaleiro e lá teriam ido os 126 M€ pelo “cano abaixo”! Assim, da forma como o
catraio se esquivou às traulitadas dos pepes, dos felipes, dos brunos fernandes
e demais arrieiros e rendeu o que rendeu, prevejo que nem consigamos atingir a
desastrosa votação daquele pateta que alugou um avião na sua campanha eleitoral
para vir a Lisboa… Já estou mesmo a ver que nem de helicóptero lá vou! – estrebuchava
talibânicamente Gomes da Selva.
E
continuava, furibundo:
- Até o Taraabt
recuperaram! Nota-se que é um jogador de nível elevado! Muita técnica,
compromisso total com o Lage e o Benfica com aquele orelhudo a rir-se… dizia
que por ele o marroquino já não envergava mais o Manto Sagrado, que não jogava
mais pelo clube, mas aí está ele reconvertido, recauchutado e resiliente!... O
gajo, com aquelas orelhas de abanico tem-nos dado cada nó cego que “faxabôr”!
Vende, não vende, diz que sim, diz que não, diz assim, assado, frito e cozido,
mas no fim lá vieram os milhões estratosféricos de Madrid, para além das vendas
do Jiménez, do Talisca, do Jovic e de mais uns quantos que perfazem quase
outros 100 M€! E ainda falta o Carrillo! Mas que “carillo” este em que me meti!
Biriato Farrapilha, de frontispício
engelhado e coçando a micose, num assomo de lucidez, balbuciou:
- Lá isso é verdade! É
assim que ele nos vai encavando e desacreditando… nós atiramos umas farpas para
o pinhal e o gajo crava-nos logo com quatro ou cinco ferros em brasa no lombo…
Pig Shadows observava, calado, o
estado de espírito dos seus parceiros e escutava-os atentamente, congeminando
ao mesmo tempo mais algumas artimanhas bacocas para desancar no seu ódio de
estimação, o “Orelhudo da Luz”:
- Se não conseguirmos
por via do orelhudo, avançamos para o CEO Domingos, esse lagarto danado…
Ó pázinho, não vás por
aí… com o gajo a apresentar resultados financeiros tão bons, arranja outro bode
expiatório, porque esse não colhe junto dos adeptos. – contrapunha Gomes da Selva. E continuava:
- A nossa única
salvação é este ano uma má campanha do Glorioso na Europa, seja na Champions
League, ou na Europa League. Vamos apostar tudo aí, mesmo sabendo que as nossas
pretensões a esse nível são uma utopia… mas pode ser que enganemos mais uns
quantos incautos, iguais àqueles que no teu blogue fazem o nosso joguinho
contra o orelhudo, ó Pig Shadows!... Mas por este andar, como dizia o “outro”,
lá terei de nascer pelo menos dez vezes para ser presidente do Glorioso! – espumava, exaltado Gomes da Selva.
Neste
preciso momento, passavam por perto alguns Autênticos que regressavam da Casa
do Glorioso. Ao ouvirem aquele discurso exclamaram:
- Tu, Gomes da Selva?
Tu, como presidente? Tu, um camaleão desse calibre, que disseste um dia que a
este presidente só lhe faltava um título europeu para ficar na História do
Benfica? Tu em presidente e com esses dois assessores e o Glorioso acabava!
Saiam três águas
gasosas, bicarbonatadas, para aliviar a azia, faxabôr!
GRÃO VASCO