Ontem bem cedo, pela manhã, quando cheguei ao quiosque habitual para ler as gordas no escaparate, dei com o habitual e famoso papagaio cinzento de fraque vermelho, recolhido a penates. Estava ainda muito frio para esticar o gargalo ao ar livre, e por isso, o dono, à cautela, não fosse o bicharoco apanhar algum resfriado, resolveu e bem, colocá-lo no interior do quiosque, junto à vitrina, sobre a pilha de jornais desportivos do dia. Pelo menos, atrairia a clientela mais distraída.
O papagaio, que todo encolhido se defendia dos zero graus de temperatura exterior, apercebendo-se da minha entrada e dos respectivos bons-dias, não hesitou, e em tons de gozo começou a trautear aquela célebre canção "Ôi cara, conheci um velho rico e careca…", esticando-se todo para chegar à capa do jornal mais próximo e que por mera coincidência ou não, era "O Nojo".
Na realidade quem lhe ensinou a cantilena esqueceu-se de dizer-lhe que ainda tenho uma trunfa respeitável e a bolsa cheia…de remendos. Portanto, havia aqui marosca.
Foi quando me apercebi que na capa do órgão oficial diário do Fruta Corrupção & Putêdo, vulgo "O Nojo", se anunciava em grandes parangonas e com foto, uma entrevista ao Senhor das Bufas. Era a homenagem deste amontoado de folhas inquinadas e respectivos escrevinhadores, ao impagável Giorgio pelo seu septuagésimo terceiro aniversário e uma evocação branqueadora de diversas facetas da sua vida.
Solicitei umas luvas descartáveis ao dono do estabelecimento, pois não queria estar a sujar as minhas mãos ao desfolhar as páginas deste pasquim miserável onde se versava o tema.
Ao percorrer a entrevista, melhor, a reles encomenda com perguntas dirigidas para respostas branqueadoras, mais uma vez concluí que as lavadeiras de Giorgio continuam numa azáfama constante, não perdendo uma única oportunidade na vã tentativa de reabilitarem um canalha que com a conivência de um bando de trafulhas sem escrúpulos se tornou numa das figuras mais sinistras do futebol indígena e mesmo da decadente sociedade de Palermo.
Mais uma lavagem grosseira em que os esbirros andrades da caneta, um bando de morcões cobardes, enfeudados e completamente manietados pelo grémio da fruta, resolveram imprimir com lixívia azul corrupta e falsificada, umas míseras folhas que se constituem como um dos piores montes de esterco que aquela pocilga jornalística alguma vez fermentou e editou desde que emergiu do lamaçal de Palermo.
Àquele arrazoado só faltou mais um título - "Vamos contar mentiras, anedotas e abastardar ainda mais o chafurdo", pois é inacreditável como alguém pode ter a coragem de publicar uma farsa tão à descarada - e um encarte, contendo directivas da pastoral do bispado de Palermo para clementinamente se proceder em vida à beatificação deste incorrigível prevaricador e à continuação do combate injustificável aos infiéis da mouraria da capital, pois cristandade e fé é com ele…e hipocrisia e impunidade também.
A indecência é uma palavra à solta naquelas bandas.
Sem dúvida que Giorgio se deleitou ao divagar sobre sexo, amor, dinheiro, amizade, trabalho, justiça e fé, mas esqueceu-se das respectivas promiscuidades nos calores da noite, das surras e das bofetadas bexiguentas na esposa e na amante, dos aveiros connections, das comissões em transferências, das contas nas suíças e nos off-shores, das conversas hipócritas com um morto que ainda em vida tentou apagar da memória colectiva dos seus prosélitos, dos seus tempos de sócio-gerente calaceiro, dos juízes mancomunados com a sua camarilha e da blasfémia que é a sua vergonhosa vida. Um péssimo exemplo para desejar estar sentado à mesa com os filhos.
Só faltou saudar os pseudojornalistas de "O Nojo" com um "tás bom, ó filha da puta?!", e uma referência às telecomunicações, mas como as escutas não valeram, nem valia a pena puxar o tema…
O almoxarife da Confraria da Fruta não esteve com meias medidas e quanto a sexo, mantém o do seu tempo – esqueceu-se dos sagrados bicos e das santas trombadas estreados com a alternadeira em San Milagro de Comportela - que é normal (mas o que é isso de "normal"?) e que só tem significado quando ambas as pessoas se entregam totalmente e com amor!
Ao ler essa passagem idílica, tão pura e prenhe de um pseudoromantismo labregóide e contumiliano, soltei uma grande gargalhada. O papagaio assustou-se e pensando que eu lhe iria fazer a barba logo ali, ou o que Giorgio quis fazer ao da amásia – ida directa para o panêlo para substituir o perú – empertigou-se, espanejou-se todo e lá começou com o seu número de circo, cantando:
O papagaio, que todo encolhido se defendia dos zero graus de temperatura exterior, apercebendo-se da minha entrada e dos respectivos bons-dias, não hesitou, e em tons de gozo começou a trautear aquela célebre canção "Ôi cara, conheci um velho rico e careca…", esticando-se todo para chegar à capa do jornal mais próximo e que por mera coincidência ou não, era "O Nojo".
Na realidade quem lhe ensinou a cantilena esqueceu-se de dizer-lhe que ainda tenho uma trunfa respeitável e a bolsa cheia…de remendos. Portanto, havia aqui marosca.
Foi quando me apercebi que na capa do órgão oficial diário do Fruta Corrupção & Putêdo, vulgo "O Nojo", se anunciava em grandes parangonas e com foto, uma entrevista ao Senhor das Bufas. Era a homenagem deste amontoado de folhas inquinadas e respectivos escrevinhadores, ao impagável Giorgio pelo seu septuagésimo terceiro aniversário e uma evocação branqueadora de diversas facetas da sua vida.
Solicitei umas luvas descartáveis ao dono do estabelecimento, pois não queria estar a sujar as minhas mãos ao desfolhar as páginas deste pasquim miserável onde se versava o tema.
Ao percorrer a entrevista, melhor, a reles encomenda com perguntas dirigidas para respostas branqueadoras, mais uma vez concluí que as lavadeiras de Giorgio continuam numa azáfama constante, não perdendo uma única oportunidade na vã tentativa de reabilitarem um canalha que com a conivência de um bando de trafulhas sem escrúpulos se tornou numa das figuras mais sinistras do futebol indígena e mesmo da decadente sociedade de Palermo.
Mais uma lavagem grosseira em que os esbirros andrades da caneta, um bando de morcões cobardes, enfeudados e completamente manietados pelo grémio da fruta, resolveram imprimir com lixívia azul corrupta e falsificada, umas míseras folhas que se constituem como um dos piores montes de esterco que aquela pocilga jornalística alguma vez fermentou e editou desde que emergiu do lamaçal de Palermo.
Àquele arrazoado só faltou mais um título - "Vamos contar mentiras, anedotas e abastardar ainda mais o chafurdo", pois é inacreditável como alguém pode ter a coragem de publicar uma farsa tão à descarada - e um encarte, contendo directivas da pastoral do bispado de Palermo para clementinamente se proceder em vida à beatificação deste incorrigível prevaricador e à continuação do combate injustificável aos infiéis da mouraria da capital, pois cristandade e fé é com ele…e hipocrisia e impunidade também.
A indecência é uma palavra à solta naquelas bandas.
Sem dúvida que Giorgio se deleitou ao divagar sobre sexo, amor, dinheiro, amizade, trabalho, justiça e fé, mas esqueceu-se das respectivas promiscuidades nos calores da noite, das surras e das bofetadas bexiguentas na esposa e na amante, dos aveiros connections, das comissões em transferências, das contas nas suíças e nos off-shores, das conversas hipócritas com um morto que ainda em vida tentou apagar da memória colectiva dos seus prosélitos, dos seus tempos de sócio-gerente calaceiro, dos juízes mancomunados com a sua camarilha e da blasfémia que é a sua vergonhosa vida. Um péssimo exemplo para desejar estar sentado à mesa com os filhos.
Só faltou saudar os pseudojornalistas de "O Nojo" com um "tás bom, ó filha da puta?!", e uma referência às telecomunicações, mas como as escutas não valeram, nem valia a pena puxar o tema…
O almoxarife da Confraria da Fruta não esteve com meias medidas e quanto a sexo, mantém o do seu tempo – esqueceu-se dos sagrados bicos e das santas trombadas estreados com a alternadeira em San Milagro de Comportela - que é normal (mas o que é isso de "normal"?) e que só tem significado quando ambas as pessoas se entregam totalmente e com amor!
Ao ler essa passagem idílica, tão pura e prenhe de um pseudoromantismo labregóide e contumiliano, soltei uma grande gargalhada. O papagaio assustou-se e pensando que eu lhe iria fazer a barba logo ali, ou o que Giorgio quis fazer ao da amásia – ida directa para o panêlo para substituir o perú – empertigou-se, espanejou-se todo e lá começou com o seu número de circo, cantando:
- Sim Carolina, ó i, ó ai, sim Carolina, ó ai, meu bem...terminando com um agudo e estridente assobio - uuuuuuuuiiiiiiiiiiiiii, uuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuu!
Já não consegui ler mais e o papagaio salvou-se de boa.
Nisto, entrou um andrade morcão que comprou um exemplar dos três que o dono da loja manda vir diàriamente.
Só ouvi o papagaio:
- É fruuuuuuta, óóó chocolate!
E o quiosque encerrou para balanço.
Nisto, entrou um andrade morcão que comprou um exemplar dos três que o dono da loja manda vir diàriamente.
Só ouvi o papagaio:
- É fruuuuuuta, óóó chocolate!
E o quiosque encerrou para balanço.
GRÃO VASCO