8.2.11

O PEQUENO EDGAR

Há dias estava eu nas aulas, na última fila, com o meu caderno e lapiseira, como sempre a fazer umas linhas de boa escrita para bons leitores, enquanto o professor expunha a sua tese utilitarista da vida humana, que sinceramente não faz parte das minhas principais preocupações mundiais, quando sou informado que as papoilas saltitantes se encontravam alojadas no hotel Meliá de Gaia, a cerca de 1000m da minha escola. De pronto, saltei como uma bala da desconfortável cadeira em que me encontrava, ausentei-me da lição (que já ia longa), passei em casa para ir buscar o meu cachecol e desloquei-me até lá, para ver os nossos temerosos guerreiros. Não me surpreendeu o que vi no local, centenas de benfiquistas a fazer o nome do Maior Clube do Mundo ecoar pelas ruas, em plena cidade dos porcos corruptos, a 300km de Lisboa. Pensei cá para mim: "somos mesmo muito grandes..", enquanto cerca de 20 gatos pingados, claros marginais dissimulados prontos a espalhar a criminalidade, trajados de azul e branco (uns tais de super morcões), viam as suas palavras pouco dignas serem abafadas pelo apoio ensurdecedor do povo encarnado. Depressa bateram em retirada, rendidos à nossa proeminência, como tristes cobardes, que são.

Duas horas de pé, ao frio, e posso dizer que valeu a pena. Não só por ter convivido tão de perto com os mágicos, mas por outras razões, como ver o meu Benfica ser tão fortemente apoiado na minha cidade. No local em que me encontrava, na primeira fila a cerca de quatro metros do autocarro, encontrava-se também o pequeno Edgar, um rapazinho de 8 anos que nunca tinha visto o nosso Enorme tão de perto, porque o pai não tem posses para que tal aconteça (conheci o senhor e o menino no local, e posso dizer que o pai desfez-se em lágrimas quando me contou isto, dizendo-me desesperadamente "nunca pude mostrar ao meu filho o que é o Benfica". Há situações que comovem um homem, e confesso que tive de limpar a lágrima do olho quando, à passagem dos jogadores, o pequeno Edgar não aguentou a felicidade e também ele se desfez em lágrimas quando os viu, como se fosse a criança mais feliz do Mundo. Após a saída da camioneta que transportava a comitiva benfiquista, abracei o pai do Edgar e disse-lhe para ter muita força, porque mais cedo ou mais tarde, a vida vai ser justa com a sua família benfiquista e que a próxima vez que o visse, que fosse no Estádio da Luz, com o Edgar, a celebrar mais uma de tantas vitórias do nosso Benfica. Deixei a zona do hotel já a noite estava escura e gélida, e não pude ficar indiferente, chorei como um menino nessa noite, quando Javi García desferiu aquele remate temeroso para o fundo das redes da fruta, da corrupção e do putedo, sabendo que Edgar e o pai estariam a viver, igualmente e no calor do seu humilde lar, uma noite de alegria, de sonho, de Benfica!

Volto a repetir, chorei como um menino nessa noite...

Um grande bem haja aos meus amigos Grão Vasco e Lucífer e peço desculpa por me encontrar ausente há tanto tempo, mas desta vez tinha mesmo que partilhar convosco esta história de tamanho benfiquismo.

Até lá, Francisco Pinto.


FRANCISCO PINTO

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