20.5.11

VIVER NA ILUSÃO



Companheiros,

Este artigo custar-vos-á tanto a ler, como me está a custar escrevê-lo.

O dia de ontem, quarta-feira, 18 de Maio de 2011 e aquilo que nele aconteceu em matéria futebolística e desportiva foi a derradeira gota de água.

O Benfica e tudo o que o envolve fizeram e fazem parte integrante da minha vida. Para muitos de vós que me lêem, acontece exactamente o mesmo. É como muitos dizem e sentem, a nossa segunda família.
Quanto a mim, nele me revejo, sentindo ainda a exultação e a glória dos grandes momentos do passado que vivi, mas que para as gerações mais novas começam a estar demasiadamente distantes perante factos mais recentes e cuja cor é outra, seja ela corrupta ou não.

Nas últimas três décadas, por vicissitudes várias e porque muitos continuaram a viver à sombra desse passado distante, o Benfica tem vindo a descer degrau a degrau, enquanto outros começaram afincadamente a fazer o percurso inverso, tendo hoje uma força incomensurável muito difícil de controlar.

A fidelidade a princípios e valores intocáveis e que são apanágio do Glorioso não bastam para justificar um hiato desesperante de títulos internacionais. O descalabro e o insucesso dos últimos vinte anos, mesmo a nível interno, não serão certamente causados por aquilo que é a essência do Clube.
Os erros e os caminhos ínvios que temos percorrido – desde presidentes, dirigentes, sócios, adeptos e simpatizantes - envoltos em feiras de vaidades e arrogâncias desmedidas, a par de uma falta de visão gritante da maior parte dos líderes que passaram pelo Benfica – incluo aqui e sòmente (e espero que seja só) na vertente desportiva o actual presidente, pois também ele não pode estar imune a críticas, conforme pretendem algumas avestruzes - custaram ao Benfica o poderio e a hegemonia do futebol e o desbaratar de grande parte do pecúlio e credibilidade amealhados ao longo dos meados do século passado.
Não soubemos preservar esse património, quase que o derretemos e continuamos a derreter com uma soberba e uma arrogância inadmissíveis, e assim hoje, como no futuro próximo e a médio prazo, teremos de correr atrás desse prejuízo. E não irá ser fácil, pois nem nas duas próximas décadas conseguiremos equilibrar uma balança que pende negativamente para nós.

Não obstante a polémica, a controvérsia, a suspeita, a promiscuidade, a ausência de valores e princípios que a nós nos são tão caros, a presença constante da chicanice que podem descredibilizar grémios e pessoas, o que se verifica é que a história do futebol luso regista uma inversão nos lugares de topo, com reflexos internacionais onde por mais que se fale de corrupção, prostitutas, chocolates e marisqueiras, todos se sentam à mesma mesa, comendo todos com todos.

E depois é esta a nossa grande vitória, a vitória moral que é a vitória daqueles que sucessivamente falham, enquanto outros amealham títulos atrás de títulos.
E pronto, lá vamos cantando e rindo, todos incluídos, barafustando nos blogues, assobiando no estádio, insultando tudo e todos, até a nós próprios e lá vêm outra vez as vitórias morais do nosso puritanismo pateta para desculparmos 50 anos de jejum internacional.

É tempo de nos transformarmos em verdadeiras águias, deixando de ser as avestruzes que escamoteiam uma realidade nua e crua – não somos os melhores nem os maiores - e acabarmos de uma vez por todas com aqueles que tentam, sempre que o falhanço surge, criar uma ilusão de óptica que ao longo destas últimas décadas arrastaram o Glorioso para um estado de letargia tal, que o espírito ganhador, sinónimo de uma mentalidade forte, quase que desapareceu por completo dos nossos dirigentes, atletas e adeptos. A militância de um clube coeso e determinado esfumou-se, dando lugar a uma nau enorme, em que uns remam para a frente, outros para trás, outros para a esquerda e outros para a direita. Tudo rema em direcções diferentes. Um autêntico repasto, onde todos alimentam o seu ego. Uma nau gigantesca que é bombardeada interna e externamente por grandes e pequenos, por correligionários e adversários, fazendo constantes rombos que evitam que ela navegue bem e para bom porto.

Há que, começar a compreender que é imperioso ter uma estrutura forte e blindada, desde a base até ao cimo. E quando falo em base, falo nos simpatizantes, adeptos e sócios. E quando falo em estrutura refiro-me àquilo que para outros é a “organização”, palavra que para alguns de nós, incrìvelmente, soa a blasfémia. Mas quer queiram quer não, a palavra é mesmo organização.
E também de uma vez por todas teremos de alterar a relação que temos com os media, especialmente alguns jornais e estações de rádio e televisão. Seja qual for a solução, esta trupe da comunicação social tem de começar a ficar em sentido quando fala do Benfica, acabando com a especulação diária que fazem do nosso clube, um autêntico bombo da festa. Não se vê isso a norte, nem mesmo aqui ao lado com os nossos vizinhos da segunda circular. Porquê?
Por último, e por agora, uma referência à liderança no clube. Firme e dura, doa a quem doer, mas com uma visão desportiva clara e objectiva. Limpar a estrutura de muitos parasitas. Parar com a libertinagem no seu interior, que grassa como uma doença infecciosa e que põe o Glorioso cada vez mais doente. Responsabilizar todos seus profissionais e não só os jogadores e técnicos. Implementar um processo de avaliação de desempenho e análise de resultados às acções a que cada um se propôs. O clube e qualquer que seja a sua massa dirigente têm de acabar com uma noção de democracia – um conceito velho e relho, obsoleto, completamente desfasado do que hoje é um clube de futebol e que tem servido de justificação para tudo - que se aproxima muito daquilo que hoje também é do mais nefasto que há no Benfica – a libertinagem e o abuso. Tudo fala, tudo discute, tudo se pavoneia, tudo critica, tudo se dá ao direito de ser dono do Benfica.

Depois aparece alguém Benfiquista e sério na televisão – sem quaisquer aspirações a ser o que quer que seja, dentro do Benfica - como ainda há pouco aconteceu, que com uma frieza espantosa vem falar de factos e números.

A realidade é esta.
Nós, há cinquenta anos, somamos dois títulos europeus.
Há outros, que em vinte e nove anos somam cinco títulos europeus e dois mundiais. Ainda agora acrescentaram mais um, sem apelo nem agravo.
Lapidar.
Custa?
Pois custa e não vale a pena continuar a escamoteá-la!

Nasci Benfica, sou Benfica e serei sempre Benfica até morrer!

Viva o Benfica!!!


GRÃO VASCO
 

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