Ontem, aos 71 minutos do
Newcastle-Benfica, lembrei-me da maldita profecia de Guttman. Alan Pardew
treinador dos Magpies, num mind game muito subtil, tinha acertado
no seu prognóstico – o Newcastle United acabava de fazer o temível 1-0 a 20
minutos do fim do jogo e seguindo o seu vaticínio anunciado na véspera, se isso
acontecesse, o Benfica acabaria por ser eliminado.
Ajoelhei e rezei!
Temendo uma hecatombe e
um desastre irreparável, não quis ver e ouvir mais nada a partir dos 10 minutos
de jogo. Estava a ser demais para o meu coração – duas oportunidades perdidas,
logo de início e lá vieram logo as más recordações de outros tempos à minha
memória. O Glorioso a jogar, a ser melhor e a desperdiçar, com os adversários
no imediato, a “matarem” o jogo, e mais uma vez, inglòriamente, a dizermos
adeus à Europa.
Pois nesse preciso
minuto 71 do tempo de Newcastle, a angústia passou a terror, com os meus
Diamantes Gloriosos a chegarem à porta de casa, a verem-me deambulando,
perdido, estrada acima, estrada abaixo e um pouco acabrunhados e receosos a
terem de me dizer:
- “Pai, estamos a perder 1-0!”
Fiquei completamente estarrecido!
Subimos e cada um foi
para o seu quarto. Mergulhei numa escuridão, por momentos transformada numa
grande incógnita. Guardei com força a pequena imagem da Santa entre as minhas
mãos e roguei por aqueles bravos rapazes que envergando o Manto Sagrado,
dignificando-o, lutavam juntamente com um pequeno exército contra 50.000 + 11.
De minuto a minuto,
ouvia algumas exclamações de ansiedade e de temor dos meus Diamantes.
- “Já fomos?!?” –
perguntava eu, completamente atordoado.
- “Não pai, foi por cima!” – dizia o mais velho.
E logo continuava:
- Ó pai, nem te digo! É agora, oh, pá…! O livre é
perigosíssimo!
- “Então? Já marcaram?”
– lá estava eu numa aflição medonha.
- “Ena pai, o Artur defendeu! Difícil, mas defendeu! – continuava ele já um pouco perturbado.
- “Quanto falta?” –
perguntava eu mais uma vez.
- “Seis minutos pai, seis minutos! – dizia ele.
Oh meu Deus, que
eternidade!
Seis minutos de suspense à Hitchcock.
Seis minutos que nos
podem levar aos derradeiros degraus de uma nova glória, reeditada, há muito
vivida.
- “Quanto falta, filho?”
.
- “ Estamos no 2º minuto dos descontos, hum… hum…, pai, é
…é gooooooooooooooooooooooooolo! Goooooooooooooooooooolo do Benfica! - respondeu o rapaz, soltando um grito como eu nunca tinha
ouvido.
Corro para o seu quarto
e no pequeno televisor portátil, vejo, já em repetição, o Salvio a marcar.
Abraço o meu filho mais
velho, aquele que supostamente é o menos entusiasta e levanto-o no ar. Sessenta
e tal quilos ao primeiro arranque! É obra!
- “Como é possível, pai? Nem estou a acreditar! – exclamava ele.
- “Não estás a acreditar em quê? No golo do Salvio ou em
estares suspenso no ar?” – perguntei,
soltando uma boa gargalhada.
Surge o mais novo,
esfusiante. Juntamo-nos os três num abraço sentido, profundo, gritando,
cantando, alimentando a Chama Imensa!
- “Pai, posso levar o meu Manto Sagrado, amanhã para a
escola? – perguntou o mais pequeno.
- “Veste-o já! Honra-o, porque os nossos jogadores merecem-no!”
A Chama está bem acesa e
a esperança continua.
Depois bem, depois
adormeci.
Quero voltar a sonhar!
Deixem-me sonhar!
GRÃO VASCO