13.4.13

A noite de Newcastle



Ontem, aos 71 minutos do Newcastle-Benfica, lembrei-me da maldita profecia de Guttman. Alan Pardew treinador dos Magpies, num mind game muito subtil, tinha acertado no seu prognóstico – o Newcastle United acabava de fazer o temível 1-0 a 20 minutos do fim do jogo e seguindo o seu vaticínio anunciado na véspera, se isso acontecesse, o Benfica acabaria por ser eliminado.

 

Ajoelhei e rezei!

 

Temendo uma hecatombe e um desastre irreparável, não quis ver e ouvir mais nada a partir dos 10 minutos de jogo. Estava a ser demais para o meu coração – duas oportunidades perdidas, logo de início e lá vieram logo as más recordações de outros tempos à minha memória. O Glorioso a jogar, a ser melhor e a desperdiçar, com os adversários no imediato, a “matarem” o jogo, e mais uma vez, inglòriamente, a dizermos adeus à Europa.

 

Pois nesse preciso minuto 71 do tempo de Newcastle, a angústia passou a terror, com os meus Diamantes Gloriosos a chegarem à porta de casa, a verem-me deambulando, perdido, estrada acima, estrada abaixo e um pouco acabrunhados e receosos a terem de me dizer:

- “Pai, estamos a perder 1-0!”

 

Fiquei completamente estarrecido!

 

Subimos e cada um foi para o seu quarto. Mergulhei numa escuridão, por momentos transformada numa grande incógnita. Guardei com força a pequena imagem da Santa entre as minhas mãos e roguei por aqueles bravos rapazes que envergando o Manto Sagrado, dignificando-o, lutavam juntamente com um pequeno exército contra 50.000 + 11.

 

De minuto a minuto, ouvia algumas exclamações de ansiedade e de temor dos meus Diamantes.

- “Já fomos?!?” – perguntava eu, completamente atordoado.

- “Não pai, foi por cima!” – dizia o mais velho.

E logo continuava:

- Ó pai, nem te digo! É agora, oh, pá…! O livre é perigosíssimo!

- “Então? Já marcaram?” – lá estava eu numa aflição medonha.

- “Ena pai, o Artur defendeu! Difícil, mas defendeu! – continuava ele já um pouco perturbado.

- “Quanto falta?” – perguntava eu mais uma vez.

- “Seis minutos pai, seis minutos! – dizia ele.

 

Oh meu Deus, que eternidade!

 

Seis minutos de suspense à Hitchcock.

Seis minutos que nos podem levar aos derradeiros degraus de uma nova glória, reeditada, há muito vivida.

 

- “Quanto falta, filho?” .

- “ Estamos no 2º minuto dos descontos, hum… hum…, pai, é …é gooooooooooooooooooooooooolo! Goooooooooooooooooooolo do Benfica! - respondeu o rapaz, soltando um grito como eu nunca tinha ouvido.

 

Corro para o seu quarto e no pequeno televisor portátil, vejo, já em repetição, o Salvio a marcar.

Abraço o meu filho mais velho, aquele que supostamente é o menos entusiasta e levanto-o no ar. Sessenta e tal quilos ao primeiro arranque! É obra!

- “Como é possível, pai? Nem estou a acreditar! – exclamava ele.

- “Não estás a acreditar em quê? No golo do Salvio ou em estares suspenso no ar?” – perguntei, soltando uma boa gargalhada.

Surge o mais novo, esfusiante. Juntamo-nos os três num abraço sentido, profundo, gritando, cantando, alimentando a Chama Imensa!

- “Pai, posso levar o meu Manto Sagrado, amanhã para a escola? – perguntou o mais pequeno.

- “Veste-o já! Honra-o, porque os nossos jogadores merecem-no!”

 

A Chama está bem acesa e a esperança continua.

Depois bem, depois adormeci.

Quero voltar a sonhar! Deixem-me sonhar!

 

GRÃO VASCO

 

 

 




PS. Até 2ª feira, ninguém me fale de futebol. Estou em gestão de esforço a fazer recuperação física e mental.

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