Ontem, no pasquim do serpa dos croquetes, viemos a saber a
verdadeira identidade do Sherlock Holmes
português que seguia no vôo TK-1450 da Turkish Airlines. O seu nome
é Paulo Montes, jornalista de “A BOLA” e enviado-especial ao jogo internacional
da Champions League entre israelitas
e morcões da Palermo portuguesa
realizado também ontem, ao fim da tarde em Telavive, que num completo artigo na
última página dessa edição, narra o que ele intitula pomposamente de “A
verdadeira história do vôo TK-1450”. Como se esta versão em que mete “alegados”,
“fontes próximas”, “sustos da tripulação”, “violência verbal” e “tensão no ar”
tivessem sido os principais motivos para que o avião aterrasse de emergência em
Roma, Itália.
Só ontem e por certo
após aturada e minuciosa investigação por parte do dito jornalista, quiçá,
tendo efectuado diligências junto de agentes dos serviços secretos turcos e
italianos, assumindo-se um verdadeiro detective nas horas vagas, a sua conclusão
sobre a ocorrência e o tumulto que se gerou a bordo do avião 737-800 que fazia
a ligação entre o Porto e Telavive com escala em Istambul - o vôo TK-1450 - foi publicada e claro está,
apontando primeiramente o dedo à malandra da hospedeira que, chegando à fila 15
e querendo passar com o trolley de
serviço, tocou com este nas delicadas pernas de um “cavalheiro” e que de uma
forma “pouco simpática” e “em inglês” lhe disse para ele as recolher no seu
lugar. Qual morcão azul e bronco ofendido
na sua honra, o “cavalheiro” abespinhou-se e muito incomodado com a observação,
iniciou o “teatro” do costume, insurgindo-se contra os modos da hospedeira
turca. Será que ela terá “ordenado” ao “cavalheiro” qualquer coisa do género em
inglês - “tira as patas do corredor e
enfia-as juntamente com o teu focinho para o espaço entre os assentos, que é aí
o teu lugar”?
Será que o “cavalheiro
sofreria de varizes e teria de esticar regularmente as suas pernas? Será que
sofria de mialgias ou tinha alguma unha encravada?
Também gostaria de ouvir
e ver as imagens e as frases que foram ditas, se é que o grande investigador
Paulo Montes recolheu alguma coisa no seu telemóvel ou no de algum dos
presentes, nesses momentos tão dolorosos para esses passageiros, verdadeiros gentlemens da claque filantrópica dos superdragões.
Quando li este lirismo
camoniano esbocei um sorriso e perguntei-me como é que os responsáveis de uma publicação
que já foi grandiosa e respeitada, autorizam um artigo deste teor na última
página da edição em papel e deixam que um escrevinhador, dos muitos que por lá
deambulam pelas secretárias, assumir-se como um detective de pacotilha com o
único objectivo de branquear actos de uma pandilha cuja má fama e perigoso
cadastro têm sido o seu cartão de visita no estrangeiro e que desta vez
obrigaram o comandante do avião a alterar a rota e a aterrar de emergência no
aeroporto italiano de Fiumicino.
Mas o que é mais grave e
ao mesmo tempo ridículo neste conto camoniano é o desplante com que Paulo
Montes refere “fontes próximas” para justificar as atitudes exaltadas de um dos
“cavalheiros”. E foi um turco, segundo essas “fontes”, dos muitos que seguiam
no avião, que de “punho cerrado” em jeito de ameaça, lançou mais gasolina para
a fogueira.
Ora porra, ó Paulo
Montes, tu podes ir no avião, mas ainda não estás em órbita ao ponto das voltas
circundantes à Terra te provocarem tonturas e delírios!
“Fontes próximas”?
Mas o que é essa treta
de “fontes próximas", ó Paulo Montes?
Sim, o que é esta conversa
da trêta?
Não chegámos a meio do
artigo e é só turcas e turcos no meio da confusão!
Queres dar a entender o
quê?
Então e a seguir um
terceiro”cavalheiro” intervém para acalmar os ânimos?
Que bondade, que
urbanidade, que educação!
Então, e os restantes
passageiros turcos aproveitaram esses momentos para fazerem uma manifestação em
jeito de arruaça, foi?
Pois foi. O comandante é
que não esteve com meias medidas e toca a pôr o avião em terra para despachar
os “cavalheiros”.
Diz o Sherlock Holmes português que ao ser
ouvida esta decisão da boca da malandra da hospedeira foi a estupefacção geral!
Mais uma vez tive de
sorrir perante tamanha anedota.
Só tenho pena que o
comandante do avião antes de se desviar da rota e aterrar de emergência em
Itália não tenha aberto o alçapão da aeronave em pleno Mediterrâneo.
Da minha parte e se
fosse caso disso, ainda solicitaria ao comandante a entrega de um pára-quedas e
um barco insuflável de borracha a Paulo Montes para vir acabar de contar o
resto da “estória” aos compradores do jornal.
É que pelo que li, Paulo
Montes e os ditos "cavalheiros" viveram uma extraordinária epopeia no meio desses
turcos, esses malandros!
PS.
Eis o artigo para quem
quiser ler e rir-se um pouco.
GRÃO VASCO