7.12.20

O jogo em que EnCornado empurrou Coates

 


Antes de esmiuçar o “polémico” lance do pretérito fim-de-semana em que os viscondes de Al Kassêt liderados pelo novo pinta-rodapés, o pisicopata Miguel Praga, choraram baba e ranho a granel, aproveito a oportunidade para contar um dos episódios mais caricatos de George EnCornado durante a sua extensa, aparvalhada e aldrabada carreira como soprador do apito.

 

Vale de La Mula, Maio de 2001.

Último domingo do mês e já o Estádio Municipal de La Mula, também conhecido por Comendador Paco Cambalacheiro, um benemérito local e nos mentideros da bola por “Ou roubas ou dás de frosques”, estava preparado desde o dia anterior para a grande final entre o Athletic Club de Coinaquente e os Unidos do Pissafria. Um anfiteatro engalanado mas com as respectivas caixas de segurança reforçadas, tribuna isolada à prova de bala e gases lacrimogéneos, fosso profundo e arame farpado entre as bancadas e relvado, buracos das toupeiras selados com cimento suave e liso pintado de verde e relva crescida até aos tornozelos.

Quatro horas antes do jogo já o recinto rebentava pelas costuras. Ninguém na cidade e redondezas queria perder o desafio que apurava o vencedor da sexta distrital que dava acesso imediato à 8ª nacional.

Durante semanas a fio a discussão nos órgãos de poder do futebol sobre a nomeação do árbitro para a grande final fez correr rios de tinta na CS, com relevo para uma rubrica especial diária do Correio da Merda TV com o comentador Bítor Minto – que lábia! - a inventar tudo o que ocorria nos bastidores através do seu apurado espírito santo d’orelha. A refrega atingiu o auge poucos dias antes do jogo e Lourenço Pintelho ameaçou demitir-se de chefe dos árbitros, já que as posições entre aqueles que apoiavam o “trio das Calheiradas” de Biáná do Castelo e os que defendiam a nomeação de George EnCornado se extremaram a tal ponto que esteve na iminência de ser contratado um juiz do conselho de arbitragem de futebol do Afeganistão para o efeito. Por fim, lá ganharam os apoiantes do pateta de Carnaxide, pelo que iria ser esta alimária do apito a dirigir tão escaldante jogo.

Expectativas no máximo. Por causa das tosses, o público afecto a uma e a outra equipa foi revistado a pente fino com detector de metais e apalpanços à mistura sendo obrigado a vacinar-se contra toda a espécie de covid’s ainda antes de entrar no recinto. Jogadores, staff’s técnicos, apanha-bolas, bombeiros e elementos da autoridade, idem. George EnCornado e os seus colaboradores também foram inoculados no rabiosque cinco minutos antes de entrarem em campo para os exercícios de aquecimento. Por causa das reacções adversas solicitaram de imediato assistência médica... 

Mas qual não foi o espanto dos espectadores quando viram entrar um fulano agarrado ao traseiro e equipado com um jersey rosa-choque, com uma crista na cabeça tipo galo romanisco, máscara a tapar-lhe o trombil até às orelhas, com pernas de leque protegidas com grossas caneleiras de cautchú reforçado que mais pareciam as velhas galochas do meu avô e que lhe davam um ar acentuadamente mariconço.

Quem seria aquela ridícula figurinha que se apressava a colocar o esférico no centro do terreno olhando fixa e alternadamente para os quatro relógios que trazia em ambos os braços?

Pois, nem de propósito! Aí estava George EnCornado para dirigir o encontro!

Entrada das equipas em campo, assobiadela monumental do público, com os do Athletic com o seu equipamento alternativo, todo verde-cueca e virados de costas para o círculo central e os do Unidos vestidos de amarelo-dos-peidos de cócoras à espera do apito inicial.

Bastaram a EnCornado meia dúzia de baforadas no apito, dois penaltys escamoteados para cada uma das equipas, expulsão simultânea dos dois guarda-redes e um golo anulado para cada lado, para pôr todo o público de cabelos em pé, desesperado. E quando, para cúmulo dos cúmulos, EnCornado resolveu sacar do cartão arco-íris e exibi-lo a dois dos grandes machos de ambas as equipas é que foi o bom e o bonito! Foi mesmo o fim-do-mundo! De imediato os adeptos rebentaram com as gaiolas de segurança, romperam as redes de protecção do campo, saltaram o fosso cortando o arame farpado, invadindo o relvado, começando a correr atrás de EnCornado até aos balneários e depois pelos olivais e matagal adjacentes ao campo, tentando, furiosos, afiambrar no pateta das caneleiras. A força policial destacada para o jogo foi impotente para aplacar a fúria da populaça.

Mas essa perseguição implacável revelou-se infrutífera, pois EnCornado conseguiu escapar por entre os pingos da chuva, e escondido atrás de umas moitas numa toca de coelho, tratou de largar as caneleiras que lhe dificultavam a fuga e cortar a crista de galo que lhe tolhia a visão. Ao passar por um vendedor ambulante trocou as chuteiras que calçava por umas alpercatas de corda, para depois se desfazer de tudo o resto que o identificava como árbitro, entregando por último o seu apito arbitral e as insígnias da FIFA ao chefe da estação dos caminhos-de-ferro mais próxima a troco de um bilhete de comboio de 2ª classe, tendo apanhado para espanto dos passageiros e já só em cuecas, peúgas e alpercatas, o regional do Norte, indo parar à estação da Trindade no Porto. Lá o esperava o morcão azul e bronco, Ribeiro Jornaleiro, director do jornal “O NOJO”, um pasquim miserável ao serviço do grémio da fruta corrupção & putêdo. Já no interior da sede do pasquim e vestido com um fato de treino do Canelas FC – já que as célebres caneleiras tinham ido à vida - enviado gratuitamente pelo velho rei do peido de Palermo do Douro e entregue em mão pelo Macaco Gibão, foi contratado como cUmentadeiro de arbitragens mas com uma cláusula muito importante no documento contratual – “foder o Benfica sempre que puder” – acabando assim, ingloriamente, a sua triste e patética carreira arbitral.

E foi aí, nessa espelunca jornalística que afirmou peremptóriamente que no recente jogo dos Famalicences contra o Lagartêdo foi ele próprio, EnCornado, que empurrou Coates para este bater com o seu braço esquerdo e apoiar-se com o direito, respectivamente no guarda-redes e defesa adversário, no lance que deu origem ao golo invalidado, sendo na sua óptica uma jogada legal que não deveria ter sido anulada pelo árbitro e pelo VAR.

Portanto ficou decifrado o enigma que tanta polémica e tanto ruído provocou - EnCornado entrou em campo irregularmente, interferindo directamente na jogada.

Fontanelas não gostou da brincadeira e enviou-lhe uma jarra de porcelana rasca do seu tamanho com os seguintes dizeres:

- ENCORNADO, SEU TRASTE, PARA A JARRA JÁ!

“O NOJO” por causa do contágio alagartado que poderia provocar na redacção do pasquim, dispensou-o durante 14 dias, sugerindo-lhe quarentena rigorosa e revisão do manual para árbitros. Curiosamente, EnCornado só conseguiu as sebentas muito rasuradas de Vasco Santos e do velho sabidola Carlos Calheiros. A sebenta deste antigo apitadeiro ainda continha agrafada a factura em nome de José Amorim - que eram os outros dois apelidos deste artista do apito - no valor de 761.713$00 escudos (3.808,00 euros), respeitante à sua viagem de férias ao Brasil com a sua família e que a agência Cosmos, empresa de viagens oficial e cúmplice do grémio da fruta corrupção & putêdo, lhe fez o favor de pagar em primeira mão por serviços distintos prestados à naçõun...e azul e bronca de Palermo do Douro.

 

GRÃO VASCO




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